Viaduto da Avenida António Macedo sobre a rua de S. Martinho, em Braga |
Hoje, cerca das 13.30 horas, regressava da escola e dei com a vista num homem que secava a face no que me pareceu ser uma toalha de rosto, aparentemente depois de lavar a cara. Avancei até poder parar o carro e voltei a pé, na disposição de falar com o senhor. Mas já não o vi.
Dirigia-me para casa, sabia que tinha o almoço à espera, sobre a mesa, e não pude nem quis afastar o pensamento sobre tantos que não têm tecto, nem mesa, nem trabalho, nem saúde, nem afecto, nem são tratados com um mínimo de dignidade. Não têm nada nem têm possibilidade de sair do ciclo de miséria em que se encontram. Alguns têm responsabilidades na situação em que caíram, ou em que se precipitaram, mas nem por isso merecem a indiferença de quem tem e de quem pode.
Porém, a maioria nasceu fora de berço com condições mínimas, nada os ajuda, parece só lhes restar a falta de tudo e ainda são vistos como “culpados” do casulo de pobreza a que estão condenados.
As sociedades evoluem, há progressos maravilhosos, que o conhecimento permite, mas as organizações político-sociais só em muito poucos países proporcionam boas condições de vida à generalidade das pessoas. E não é seguro que, nos próximos anos, esse tipo de sociedades tenha grandes probabilidades de replicação noutros países. A privação das condições materiais de dignidade mínima com a consequente limitação da liberdade parece, ao invés, propagar-se, profanar as democracias, e aumentar a subjugação material, educacional, psicológica, laboral e social dos cidadãos. Muito poucos controlam o mundo e os bens materiais e a generalidade dos restantes sobrevivem para ampliar as diferenças entre uns e os outros.
Falharam as filosofias políticas, falharam as religiões, falha a organização dos governos e dos sistemas de justiça e de educação. Por isso falham também as condições de nutrição, de habitação, de higiene e de saúde e de realização humana.
Que o mundo não está bem, não está. Sendo certo que nunca, em cada tempo, esteve melhor para a maioria dos seres humanos.
O que não legitima a perda de esperança, nem o abandono da luta pelos ideais de uma sociedade melhor e de um ambiente natural mais respeitado.
Porque não há outra via.
Quanto ao morador de debaixo do viaduto, que tal se a segurança social de Braga, em colaboração com a autarquia bracarense, fizessem alguma diligência? De preferência a tempo, que o Inverno não tarda.
José Batista d’Ascenção