Actualmente, a diminuição da prática de exercício físico prejudica seriamente a coordenação motora e faz aumentar catastroficamente a obesidade, com múltiplas consequências na saúde.
A ginástica devia, por isso, fazer parte dos currículos de todos os estabelecimentos de ensino, do básico ao secundário, e ser publicamente assumida como um serviço a prestar às pessoas de todas as idades. Propositadamente, evitei a expressão “educação física” porque, quando se fala de “educação” a polissemia do termo conduz a interpretações diversas, incluindo a de xaropar crianças e jovens com conteúdos teóricos em sala de aula e de os obrigar à realização de trabalhos gráficos que mais não fazem do que aumentar o sedentarismo (e a aversão àquela disciplina escolar).
A prática de desporto, vista como actividade física por gosto e factor promotor da saúde, caminha amiúde em sentido pouco recomendável. Acentua-se a competição agressiva, desvalorizam-se as boas maneiras e o respeito pelos adversários ou instiga-se o mais estreme ódio aos oponentes (ou a algum deles em especial). Estes fenómenos de agressão tornaram-se visíveis em certos pais que acompanham os seus infantes aos torneios, muitas vezes insultando soezmente árbitros, elementos da equipa oposta ou outros pais, alguns fanáticos como eles, mas também os que são pessoas pacatas.
Em alta competição, a cultura da agressividade e do ódio preocupa igualmente. Aquele que já foi considerado o melhor treinador de futebol do mundo praticou o “método” com bons resultados (para as suas equipas e proveito material para si). No campeonato português de futebol, treinadores há que, em certas manifestações: olhares, palavras e atitudes, parecem destilar ódio. Certos jogadores, idem. Chamam-lhe competitividade e outros nomes. Mas é ódio. E esse ódio é alimentado por dirigentes e certos opinadores, incendiando facilmente o público aficcionado. O caso das claques é extremo e do domínio da criminalidade, tão incomodativa quanto impune. A aberração do racismo, medular na besta humana, é mais comum do que se admite, disfarçada sob o verniz social.
Curiosamente, quando a disseminação do ódio se igualiza, por assim dizer, entre a maioria dos oponentes, o seu efeito na melhoria dos resultados tende a anular-se e o “método” acaba a prejudicar todos.
Mas porque é que é assim? Na raiz do problema estão dois factores, um genérico e outro específico, contido no primeiro. Esse primeiro é a natureza do animal humano e a necessidade que tem de dar vazão à sua agressividade e violência sobre os semelhantes. E o segundo, não menos terrível, é a ganância por fama e dinheiro.
Há remédio?
Não sei. Mas sei que perdi o gosto por assistir a encontros desportivos (por exemplo de futebol) onde os praticantes são tão bons que dificilmente se conseguem vencer. E então recorre-se a qualquer deslealdade que permita vantagem no resultado. Mas o espectáculo fica diminuído.
José Batista d’Ascenção