Temos em Portugal o privilégio de viver numa democracia. Mas é, a meu ver, uma democracia muito imperfeita, que, assim mesmo, é de longe preferível a qualquer regime autoritário. É fácil culpar (só) os políticos, que têm enormes responsabilidades, mas essa razão não justifica tudo… Afinal somos nós, os cidadãos, que os elegemos ou que nos abstemos de os eleger. Nos intervalos lamentamo-nos muito, mas responsabilizamo-nos pouco, e provavelmente não valorizarmos devidamente os que são sérios e dedicados à causa pública.
Porque funciona mal em tantas coisas, o nosso país?
Aos meus olhos, o sistema de justiça é pouco eficaz, muito moroso e demasiado brando com os poderosos. Na assembleia da república multiplicam-se, estendem-se e rendilham-se as leis por mãos que vão depois explorar-lhes as alíneas convenientes, em benefício dos negócios milionários dos seus clientes. Pode esperar pela justiça ou evitá-la, adiando-a de recurso em recurso, indefinidamente, quem tem poder financeiro para isso. Para os mais humildes, o recurso aos tribunais não é fácil e, na prática, pode nem ser possível. Ora, se não há (boa) justiça não há democracia de qualidade ou nem democracia há.
Temos, por outro lado, o chamado «sistema educativo», que presta um serviço que deixa muito a desejar. Na realidade, estamos a ensinar mal (ou nem ensinamos) muitas crianças, sobretudo as mais pobres, que continuarão pobres e terão filhos pobres. Sem condições materiais mínimas, sem educação em casa ou sem afecto e acompanhamento, as crianças chegam à escola e não rendem. Muitas não conhecem normas de disciplina nem de cidadania, problema que atinge também grande parte dos que pertencem a famílias que vivem desafogadamente. Do básico para o secundário, alarga-se a tendência de não haver distinção entre recreios, corredores e salas (que deviam ser) de aulas, injuriando o imprescindível ensino formal. As pedagogias com que (im)prepararam os professores eram construções de barro mole, sempre a deslizar freneticamente para a última moda, no afã de camuflar o falhanço repetido das anteriores. Sobrelevou-se irracionalmente a burocracia com pozinhos digitais na intenção de tudo mascarar, pela mão de agentes que não gosta(ria)m de ensinar crianças. Os assistentes sociais e os psicólogos (alguns esforçados) pouco podem ajudar os professores. Estes envelheceram, perderam a saúde e o crédito. Há pouco quem queira ser professor. A escoa pública precisa de oxigénio e de lucidez.
Há ainda a economia frágil de um país atolado numa imensa dívida. Vamos continuar pobres. E quem não tem casa nem (adquiriu) capacidade para ganhar o pão dificilmente contribui para uma sociedade harmoniosa onde direitos e obrigações deviam de todos.
Todavia, não é objectivo deste apontamento fazer ressumar um rol de desgraças.
Sem credulidade em propaganda eleitoral, não deixarei de prestar atenção às propostas exequíveis dos diferentes concorrentes eleitorais na área específica da educação, que está muito doente. A esses darei o meu voto.
Bom Ano Novo.
José Batista d’Ascenção