A história procura, sem que o consiga, explicar por que os humanos, mais ou menos organizados, tentam dominar e subjugar outros humanos.
Somos animais. E como animais procedemos, por vezes na maior irracionalidade. Se as condições materiais são insatisfatórias, as lutas e a crueldade são justificadas nessa base. Mas há períodos de progresso, de suficiência e de abundância que desembocam em novas guerras e assombrosas carnificinas.
A evolução social, por mais favorável que seja e que aparente, não esclarece nem resolve a violência íntima das pessoas, nem o contágio que a faz alastrar a outras. Frequentemente, nem é capaz de prever quando nem como as atrocidades vão eclodir.
A psicologia e a psiquiatria podem antecipar comportamentos individuais e fornecem meios para a sua prevenção. Mas a sociologia e a etologia falham na antevisão das acções funestas dos grandes grupos.
Há aspectos intrínsecos em que não moldamos o sentir e a mente humana. O que vamos fazendo é agarrarmo-nos a convicções que expressamos ou escondemos, tomando-as como verdades tão definitivas quanto infundadas ou ilusórias. Muitos destes mecanismos funcionam sob roupagens capazes de ocultar ou disfarçar o sentimento e a vontade, se e enquanto a conveniência o exige. Efeitos deste tipo notam-se muito em áreas tão díspares como a política ou o desporto, e, ironia das ironias, na pedagogia e no funcionamento dos chamados “sistemas educativos”. A realidade é aqui “envernizada” ou “pintada” e, por vezes, “doirada”, para sossego das (ou de algumas) consciências. De ciência que valha o nome sobra muito pouco. E as crianças percebem-no e agem em conformidade, não levando em conta os adultos, sejam os pais ou os professores. O descrédito é inevitável. E a deseducação também.
Donde, em matéria de contenção da indisciplina e da violência estamos como sempre estivemos: tudo é velho e tudo é novo, quando está a acontecer.
Só que a evolução tecnológica e o poder bélico cresceram extraordinariamente. Fica(-me) a dúvida: a sociedade humana vai aniquilar-se ou, pelo menos parte dela, vai encontrar a redenção?
José Batista d’Ascenção