Entre 1980-85 fiz o curso de Biologia, do ramo educacional, na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra. No último desses anos ofereci a mim mesmo a obra «A FAUNA», uma excelente colecção de 11 volumes, com 300 páginas A4 cada, abarcando a vida animal do planeta, ilustrada com boas fotografias, para a época, sóbria mas belamente encadernada. Paguei-a a prestações. Estes livros seguiram-me ao longo dos anos e fui-os consultando uma ou outra vez, como fizera antes, na biblioteca da universidade.
No final do ano lectivo passado peguei no 1º volume e comecei a lê-lo seguidinho, como leitura de férias. Pese um ou outro erro sistemático de gramática, a escrita é muito clara e de leitura agradável. Para além das fotos, algumas de página inteira e até de dupla página, num caso ou noutro, há desenhos muito precisos e elucidativos de certas atitudes e comportamentos dos animais. Do 1º volume passei ao 2º e assim sucessivamente: estou no 7º, sem perder o entusiasmo.
Porém, assombra-me frequentemente o desgosto de constatar como muitos dos bichos, alguns muito belos, caso de certos felinos, gazelas ou algumas aves, viram o seu número drasticamente reduzido a poucos exemplares, alguns mantidos em zoológicos ou em áreas de reserva, ou se extinguiram, pura e simplesmente. A diferença entre a época da minha meninice e os tempos de hoje traduz-se em tal perda de biodiversidade que não podemos chamar-lhe outra coisa que não uma “extinção em massa”. As causas poderiam ter-se devido a fenómenos naturais, mas, na realidade, em grande parte dos casos, o agente destruidor das espécies é a nossa própria espécie (Homo sapiens). Fazemo-lo na condição de predadores, por necessidade (de alimentação ou profissional, em qualquer dos casos mal gerida…) ou por prazer (mediante a caça desportiva excessiva e pouco inteligente) ou por destruição dos habitats ou ainda pelas alterações que provocamos neles devido sobretudo à poluição.
A população humana cresceu exponencialmente nos últimos 150 anos, potenciando em escala crescente as agressões ao ambiente. As medidas de prevenção e remediação são em ordem de grandeza muito inferior, o que nos coloca em risco enquanto espécie biológica, dependentes em absoluto das condições do meio: disponibilidade de oxigénio, de água limpa e de alimento, temperatura compatível, espaço natural favorável, etc.
A admirável beleza, complexidade e particularidades do mundo vivo que A FAUNA descreve e ilustra só muito parcialmente poderão ser testemunhadas pelos meus netos e seus descendentes. O que o planeta será então, e o que será feito dos humanos ou o que eles farão, não o consigo imaginar.
José Batista d’Ascenção
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