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Em abstracto, que importância tem um humano fazer um salto em altura de 2.44 ou de 2,45m?, percorrer 100 m em 10 s ou conseguir fazê-lo em 09,58 s? Há macacos ou gazelas que poderiam saltar bastante mais, de forma natural e com muito mais elegância. E um galgo ou um felino de médio porte facilmente alcançariam velocidades superiores, com menos cansaço. Há ainda desportos que integram várias modalidades, consoante o interesse, a criatividade e o poder de quem os propõe, organiza e publicita. Matéria que me interessa é verificar que os grandes atletas/desportistas de diversas áreas, somam mazelas que lhes limitam grandemente a saúde, passada a época áurea, e abreviam a esperança de vida.
O atrevimento destes pensamentos valer-me-ia seguramente a classificação de ingénuo ou de esquisito pelos menos pacientes, se acaso lessem este escrito. Obviamente, há o egoísmo natural de querer ser melhor do que os outros, seja no que for, associado às grandes maquias que os beneficiados da sorte e do acaso conseguem obter, normalmente com dedicação e esforço. O que é inteiramente legítimo.
Mas não há aqui alguma falha na educação que tivemos e que damos às crianças?
Porque não há-de competir cada um essencialmente consigo próprio, para fazer o seu melhor em cada momento? Evidentemente que o que os outros conseguem, nas tarefas que eu desempenho, serve de contraponto à qualidade das minhas performances e ajuda-me a definir aquelas a que posso dedicar-me ou em que posso melhorar. Assim mesmo, mais cooperação e menos competição, parece-me, haviam de trazer mais compensação emocional e riqueza, até material.
Ou será que o ser humano não pode viver sem competição, sem alguma violência ou mesmo ódio, ainda que disfarçado? Seria (mais) perigoso? Responda quem souber.
O que vejo em relação a muitos desportos, nos praticantes, nos dirigentes, nos treinadores, nos negociantes, nos comentaristas e no público (agora enriquecido pelo envolvimento, igualmente fanático, de muitas mulheres) é, a meus olhos, a cultura do ódio. Ganância pura. Irracionalidade estreme. Ou antes a libertação de emoções? Com que custos?
E nas escolas, entre os alunos, vejo cada vez mais crianças e jovens com peso excessivo e destreza física (algo) limitada aos polegares (que usam com proficiência nos telemóveis). Faz-me espécie que não seja possível pô-los a dar uso à musculatura. Na realidade, há aulas de «educação física» (assim lhe chamam…) que são dadas em sessões teóricas, dentro de salas de aulas comuns, por não haver espaço disponível no recreio ou nos ginásios/pavilhões. Eu olho e fico com pena de que não haja uma disciplina com o nome de “exercício físico”, “ginástica” ou “desporto”. Sem esperança.
José Batista d’Ascenção