domingo, 26 de maio de 2024

Banco alimentar contra a fome, que não devia ser preciso, mas é

Entre as oito e as dez, calhou-me estar num hipermercado com a Letícia e a Olívia, meninas que estão a terminar o nono ano de escolaridade, e o Francisco, que conclui o décimo primeiro, a recolher bens alimentares para distribuir por quem nem para se alimentar tem recursos.

Como sinto algum desconforto por fazer pouco pelos outros (a minha profissão devia ser isso, mas está longe do que devia…), aproveitei a oportunidade para dar algum alívio à consciência.

E que bem acompanhado estive: a bondade, a disponibilidade (os meus colaboradores chegaram bastante antes da hora…), a generosidade e o sorriso doce e simples foram (para mim) prémios acrescidos na manhã deste dia.

Há muita gente generosa, como há os mais taciturnos, porventura desencantados e duvidosos, que seguem na sua indiferença aparente.

Amigos meus criticam, em forma de alerta, para possíveis desvios. Porém, tomara eu não me desviar daquele princípio que tanto ouvi a meus pais e avós: fazer o bem sem olhar a quem.

E sobretudo aos que precisam, suponho eu, na minha infinita impotência.

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Livros belos que fazem doer

Depois de ter visto referências elogiosas da minha amiga e colega aposentada, Maria de Fátima Ferraz, fiquei com a pulga no ouvido para ler o (pequenino) livro «Longe do Mar», de Paulo Moura (edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos, com um preço de cerca de 3,00 €, «online»).

Não é tempo perdido. O autor decidiu viajar ao longo da estrada nacional nº2, que corta o rectângulo continental a meio, na direcção Norte-Sul, e relatar as histórias autênticas que lhe parecessem dignas disso. E que bem o fez.

Quem quiser conhecer alguns aspectos reais do interior do país, as condições em que os pobres, que eram quase todos, viviam e sofriam, ainda há poucas décadas, e o modo como resistiam na dura luta contra as dificuldades da vida, por oposição à de alguns ricos, que se davam ao luxo de ir de avioneta da Cova da Beira à Figueira da Foz comprar sardinhas frescas, tem neste livro um auxiliar muito franco e comovente.

Há partes que fazem doer, tal a força com que se impõem e o choque que em nós causam.

Mas porque havia eu de dizer mais? É fácil e barato sabê-lo cada um.

E eu até empresto o livro a quem quiser. 

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Leituras

Há cerca de nove anos, em trinta e um de Maio de dois mil e quinze, deu-me para começar a tomar registo de cada livro que lia, pela sequência temporal.

Decorrido este tempo, li ou reli trezentos livros, dos mais diversos em conteúdo e tamanho, sem ordem pré-estabelecida.

A um escritor sénior da nossa praça ouvi um dia que teria lido milhares de livros na sua juventude. Se a memória não me falha, num texto de J. Pacheco Pereira, consta que uma pessoa pode, durante uma vida (longa), ler não mais que cinco ou seis mil livros.

Contas simples remetem-me para a condição de humilde leitor: objectivamente, em nove anos, li em média um livro por cada onze dias. Extrapolando para um período de sessenta anos eu poderia atingir a modesta soma de dois mil livros, aproximadamente. Longe, portanto, dos números referidos acima por gente do ofício.

Da minha experiência de vida, os factores de aprendizagem mais marcantes parece-me terem sido a educação familiar, o convívio social, os (bons) professores, os livros e as viagens. Há também a «internet», mas a rede global é tanto uma fonte possível de boa formação como um conjunto de incentivos a aprendizagens erradas ou mesmo à desaprendizagem, não obstante ser impossível e de todo indesejável voltar aos tempos anteriores à comunicação digital.

Com tantos bons livros para ler (e falta de tempo de vida para ler todos os que valem a pena), optei, desde cedo, por deixar de lado as obras de escritores desconhecidos ou quase… Sei que é injusto e me traz prejuízo, mas não sinto qualquer vontade de alterar o procedimento.

Porfio, portanto, na minha lenta e curta viagem através de livros que suponho que são garantidamente (?) bons.

E confirmo que, vários deles, o são tanto que algo melhora(ra)m em mim.

José Batista d’Ascenção