quinta-feira, 22 de maio de 2025

Quando vêm a nós, os nossos filhos.

De pequeninos, é um enlevo. Consome-se a gente para que nada lhes falte, sendo que é tão imprescindível o conforto financeiro e material quanto o sentimento de amor subjacente. E os requisitos materiais podem mesmo valer pouco, se não assentam na base de afecto necessária.

Andamos, então, num afã, entre cuidar, vigiar, proteger, levar e trazer, e raramente nos apercebemos de que o tempo voa, eles crescem e escapam à nossa alçada. Um dia, damos connosco surpresos e nostálgicos: eles são crescidos e esforçam-se por que o notemos…

Os nossos filhos não são nossos, são apenas nossos filhos.

Provavelmente foi assim também com os nossos pais relativamente a nós, em alturas correspondentes da nossa infância e juventude.

Mais tarde vieram os netos, que são como que filhos duas vezes. Se estão fisicamente próximos é um privilégio extraordinário. Se estão longe há uma falta que dói e persiste. Compensa-se como se pode, mas pode-se pouco e pode-se mal.

Aguardamos pelo dia de amanhã, em que chegará o nosso mais velho, para curta visita, num vir e voltar necessário, em que viaja sozinho.

Enche-se-nos o peito, não completamente. Para esvaziar-se dois dias depois. Estes dois dias vão parecer-nos tão curtos quanto vão ser longos para os nossos netos pequeninos, que, ao mesmo tempo, vão sentir a falta do pai, lá do outro lado do mar.

[Meus filhos e netos emigrantes, do meu país bonito, mas pobre! Como eu desejo que vos tratem bem, lá onde viveis, tão abrigados como no abrigo do meu peito.]

E porque proximamente não podeis vir, queridos netos, não pode demorar muito que eu e a avó vos vamos abraçar, a essa terra distante e estrangeira e estranha para nós.

Ao vosso pai, a esse aproveitamos para o sufocar de carinho este fim-de-semana.

Como ele vos dirá.

José Batista d’Ascenção

5 comentários :

  1. Muito bem amigo Zé desejo que essas horas que vão parecer curtas, como dizes, sejam vividas intensamente, no aconchego familiar onde o amor lim

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  2. ...onde o amor , carinho, afecto seja uma constante.

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  3. Como sempre, escreves muito bem. É o talento da escrita tendo subjacente as excelentes qualidades morais e éticas que sempre te conheci, desde os bancos da universidade.

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  4. Que comentário tão elogioso. Não tenho a certeza de quem o fez, mas agradeço-o, comovido. Um abraço ou um beijinho, consoante tenha sido um colega ou uma colega.

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