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Na noite de fim de ano calhou de olhar os canais de tv portugueses. Jovens locutores («loucotodos»?) esforçavam-se teatral e sonoramente por transmitir um entusiasmo transbordante, espevitando os circunstantes, nacionais ou estrangeiros.
Num programa festivo havido pelo Natal, que vi dias antes através da televisão, porque realizado na cidade onde moro, ainda que agradável e moderado, não era ausente a mesma tendência.
Os concursos, que só vejo involuntariamente e de raspão, parece-me que usam formas (fórmulas) do mesmo teor.
Desconheço porque há um ar tão artificial e espampanante nas transmissões que se pretendem alegres. Será a antítese compensatória da especulação, ficticiamente noticiosa do dia-a-dia, sobre dramas e desastres, desventuras do pontapé na bola ou da provocação e do choque perante fenómenos de faca e alguidar, acontecidos ou em perspectiva de acontecer e exibidos até à náusea?
As televisões estão de tal ordem que programas como a transmissão do concerto de Ano Novo pela Filarmónica de Viena se revestem de uma quase irrealidade excepcional. Vá lá.
Fora do espaço televisivo, por exemplo nas escolas ou em acontecimentos sociais, o caos sonoro e visual está também muito presente. Deve ser um sinal dos tempos.
No entanto, tenho dos cidadãos no norte da Europa a ideia de que são habitualmente mais contidos. A (sua) frieza não faz o meu agrado, mas a serenidade e a discrição sim. Quando viajei de comboio na Holanda apreciei sobremaneira as carruagens de silêncio onde se pode ler ou trabalhar ou, simplesmente, ouvir… o silêncio. Nas outras carruagens, o barulho das pessoas também não era elevado, excepto quando havia grupos de espanhóis ou de italianos. Os portugueses, como eu, seriam raros e tímidos.
Há apenas algumas décadas, em Portugal, um povo pouco letrado e de fadário sofrido explodia em folclore popular nas festas e romarias dos domingos de Verão, com muito estrondar de foguetes, em que rivalizavam e competiam aldeias e vilas do interior. Mais recentemente, os jovens, mais e menos urbanos, aderiram aos grandes festivais de Verão porque passaram a ser outras as preferências musicais, mas sempre com elevados volumes de som. Compreensivelmente.
O meu país não é melhor nem pior do que outros. Aqui nasci e aqui vivo e, para mim, o meu povo é o mais querido e sofrido, porque nele sinto (e sou) as suas e as minhas idiossincrasias. E pertencendo genuinamente a ambos, contribuo infinitesimalmente para o que Portugal é para o povo que somos.
Prefiro, porém, o entusiasmo de realizações maduramente pensadas à alegria espaventosa de milagres ilusórios.
José Batista d’Ascenção
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