sábado, 23 de janeiro de 2021

Boletim de voto com “errata”

A imagem é de um painel de afixação do consulado português em Nova Iorque, onde o meu filho mais velho exerceu o seu direito de voto nas eleições presidenciais.

Aquela “errata” encimando o exemplar do boletim de voto dá uma ideia caricata do modo como as nossas instituições e os nossos organismos de estado e de governo funcionam.

E aquele cidadão, cuja fotografia encima a folha de voto, e que corresponde, segundo as notícias, a um militar com a patente de tenente-coronel, não devia ser chamado à pedra pelo seu procedimento?

Situações destas, derivadas de tais actos, deviam ter consequências, a todos os níveis, porque achincalham as instituições e maculam a cidadania.

Ao mais alto cargo da nação devia candidatar-se apenas quem reúne condições e capacidades mínimas para o exercício do cargo. 

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Problema(s) do bom senso

Fonte da imagem: aqui.

A invocação do bom senso, feita amiúde, particularmente em tempos difíceis, encerra dois problemas ingratos:

- ninguém sabe concretamente o que seja;

- e todos pensam que têm muito, incluindo aqueles a quem mais falta, por razões compreensíveis.

Por isso abundam os cegos que conduzem outros cegos, ante os receios de um ou outro que, embora lúcido e sereno, não tem possibilidades de intervir.

Assim vão os tempos.

José Batista d’Ascenção


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Tempo das mulheres

Maria de Lourdes Pintasilgo, 1ª Ministra de Portugal
em 1979/80. Imagem obtida via «Google»

Quando, em 1979, ascendeu ao topo do governo português uma mulher que me causava admiração, supus que se daria um salto em frente na eficácia e na honestidade da governação. Era um sentimento meu. Foi sol de pouca dura. Mais do que a sã utopia das suas ideias, ficou-me a impressão de que muitas das dificuldades do seu executivo se deveram ao cinismo e à má vontade dos líderes partidários da altura em relação a ela, que não era militante de nenhum partido e desempenhava o cargo que alguns deles ambicionavam e com que teriam de cotejar-se. Mais tarde, depois da fraca percentagem de votos que obteve como candidata independente à presidência da república, pareceu-me que era o início do seu ocaso político no país e que se desperdiçavam internamente as suas notáveis capacidades e o seu elevado prestígio, não obstante as funções que ainda viria a desempenhar em foros internacionais.

Ao tempo, tendo iniciado as minhas funções de professor dos 7º, 8º e 9º anos do ensino unificado (assim se chamava) e do ensino secundário, começou a ganhar corpo em mim a ideia de que as meninas, na generalidade, tendiam a obter melhor aproveitamento do que os rapazes. Admiti então duas possíveis razões para o que, em dada altura, considerava um facto: Por um lado, um avanço na “maturidade” psicofisiológica das raparigas em relação aos rapazes, o que lhes dava alguma vantagem face a alguma “atrapalhação” deles na fase de transição. Por outro lado, admiti que a educação das raparigas, sobretudo por parte das mães, de modo subtil e até inconsciente, fosse mais próxima e efectiva no estímulo das capacidades de organização, serenidade e resiliência do que a educação dos rapazes, com vantagens para elas em termos comparativos (hoje, se existe, este efeito parece-me esbatido).

Curiosamente, também sempre me senti mais entrosado com as direcções das escolas lideradas por mulheres do que com aquelas em que pontificavam homens. Mas isto atribuo-o a mera inclinação da minha parte.

A nível internacional, nas últimas cinco décadas, em matéria de política e governação, com excepção da «dama de ferro», vejo com bons olhos as lideranças femininas dos países democráticos, que podem ser tão diversos e distantes como a Escócia e a Nova Zelândia. O mesmo não sinto em relação à generalidade do governo dos homens nos países do mundo democrático e nas instituições europeias no mesmo período (veja-se o papel de Durão Barroso como presidente da comissão europeia e o aproveitamento pessoal que fez disso, logo a seguir), mantendo embora a admiração por líderes como Olof Palme, Willy Brandt, Helmut Schmidt ou Helmut Kohl. Nas chefias de países com relevo internacional ou supra-nacionais, Angela Merkel merece o meu respeito  (apesar da fúria que me causou aquela afirmação, em tempos da tróica, de que os portugueses tinham muitas férias e trabalhavam pouco), e aprecio e admiro, sobretudo, aquela senhora elegante de aspecto físico frágil, mas muito firme e com ideias claras e elevados objectivos humanistas, chamada Ursula von der Leyen.

Ursula von der Leyen, Presidende da Comissão Europeia
desde 2019. Imagem colhida através da «Google»

Naturalmente, não acredito no advento de um mundo novo liderado por mulheres nem em nenhuma superioridade delas em relação aos homens. Mas parece-me avisado aumentarmos o universo de “recrutamento” dos líderes governativos e de todas as profissões, por alargamento à população feminina, de forma a duplicarmos, na política e em muitas outras áreas, as possibilidades de escolhermos as/os melhores para cada função.

Elas mais que merecem e o ganho é de todos.

José Batista d’Ascenção