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Maria de Lourdes Pintasilgo, 1ª Ministra de Portugal em 1979/80. Imagem obtida via «Google» |
Quando, em 1979, ascendeu ao topo do governo português uma mulher que me causava admiração, supus que se daria um salto em frente na eficácia e na honestidade da governação. Era um sentimento meu. Foi sol de pouca dura. Mais do que a sã utopia das suas ideias, ficou-me a impressão de que muitas das dificuldades do seu executivo se deveram ao cinismo e à má vontade dos líderes partidários da altura em relação a ela, que não era militante de nenhum partido e desempenhava o cargo que alguns deles ambicionavam e com que teriam de cotejar-se. Mais tarde, depois da fraca percentagem de votos que obteve como candidata independente à presidência da república, pareceu-me que era o início do seu ocaso político no país e que se desperdiçavam internamente as suas notáveis capacidades e o seu elevado prestígio, não obstante as funções que ainda viria a desempenhar em foros internacionais.
Ao tempo, tendo iniciado as minhas funções de professor dos 7º, 8º e 9º anos do ensino unificado (assim se chamava) e do ensino secundário, começou a ganhar corpo em mim a ideia de que as meninas, na generalidade, tendiam a obter melhor aproveitamento do que os rapazes. Admiti então duas possíveis razões para o que, em dada altura, considerava um facto: Por um lado, um avanço na “maturidade” psicofisiológica das raparigas em relação aos rapazes, o que lhes dava alguma vantagem face a alguma “atrapalhação” deles na fase de transição. Por outro lado, admiti que a educação das raparigas, sobretudo por parte das mães, de modo subtil e até inconsciente, fosse mais próxima e efectiva no estímulo das capacidades de organização, serenidade e resiliência do que a educação dos rapazes, com vantagens para elas em termos comparativos (hoje, se existe, este efeito parece-me esbatido).
Curiosamente, também sempre me senti mais entrosado com as direcções das escolas lideradas por mulheres do que com aquelas em que pontificavam homens. Mas isto atribuo-o a mera inclinação da minha parte.
A nível internacional, nas últimas cinco décadas, em matéria de política e governação, com excepção da «dama de ferro», vejo com bons olhos as lideranças femininas dos países democráticos, que podem ser tão diversos e distantes como a Escócia e a Nova Zelândia. O mesmo não sinto em relação à generalidade do governo dos homens nos países do mundo democrático e nas instituições europeias no mesmo período (veja-se o papel de Durão Barroso como presidente da comissão europeia e o aproveitamento pessoal que fez disso, logo a seguir), mantendo embora a admiração por líderes como Olof Palme, Willy Brandt, Helmut Schmidt ou Helmut Kohl. Nas chefias de países com relevo internacional ou supra-nacionais, Angela Merkel merece o meu respeito (apesar da fúria que me causou aquela afirmação, em tempos da tróica, de que os portugueses tinham muitas férias e trabalhavam pouco), e aprecio e admiro, sobretudo, aquela senhora elegante de aspecto físico frágil, mas muito firme e com ideias claras e elevados objectivos humanistas, chamada Ursula von der Leyen.
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Ursula von der Leyen, Presidende da Comissão Europeia desde 2019. Imagem colhida através da «Google» |
Naturalmente, não acredito no advento de um mundo novo liderado por mulheres nem em nenhuma superioridade delas em relação aos homens. Mas parece-me avisado aumentarmos o universo de “recrutamento” dos líderes governativos e de todas as profissões, por alargamento à população feminina, de forma a duplicarmos, na política e em muitas outras áreas, as possibilidades de escolhermos as/os melhores para cada função.
Elas mais que merecem e o ganho é de todos.
José Batista d’Ascenção