A Cristina Mª R. Assis Figueiredo Valadares e a sua família nuclear: o Jorge V. e a A. Rita |
Passaram mais de quatro décadas. Jovens, entrávamos na universidade com a energia e a inocência de quem abraça a vida sem reservas. Humildes, determinados, generosos e solidários. Por quaisquer afinidades fomo-nos agrupando naturalmente. Entre alguns do nosso ano formou-se a “trempe” a que chamámos “dupla”. O verso do acróstico que veio a caracterizar cada membro desse grupo é, no teu caso, de significado curto e pobre. “Respeitável” assenta-te que nem uma luva, claro. “Inteligente”, não podia oferecer dúvida. Mas falta(va) ali muito. E todos o sabíamos, antes como agora (sendo provável que tu própria não lhe tenhas ligado nada). Porque eras a melhor de nós: o elemento mais disponível, mais agregador, mais generoso, mais presente, mais desprendido, mais atento a todos e a cada um dos outros (o que se estendia ao curso inteiro, a familiares, a vizinhos, a amigos, a amigos dos amigos e conhecidos ou desconhecidos…). Mas não era apenas isso. E este «não apenas», nada enigmático (e sempre intuitivo e claro e nobre e bom) não era nem é fácil de dizer por palavras (poucas ou muitas…).
De onde te vinha isso? A resposta é fácil: Os pais já eram assim. A avó (a única que conhecemos) já era assim. O ambiente na (que viria a ser a) CP (casa dos pais) era assim: a porta permanentemente aberta, a mesa invariavelmente farta e sempre com lugares disponíveis. Os amigos entravam e sentiam-se da e na família. Era assim. Sempre foi assim.
Chegou a maturidade etária - sem que qualquer dos do nosso grupo mais restrito tivesse alguma vez incumprido os seus deveres de estudo ou manchado a dignidade - e a entrada na profissão. De novos encontros resultaram novas famílias. Pelo teu lado chegou o Jorge. E veio como se já tivesse vindo. Como se sempre tivesse estado.
E à CP acrescentou-se a CF (a casa dos filhos), com a mesma amizade e carinho e estima e afeição. E tesouros de nova geração foram aparecendo. Não foi pequeno, nem degenerado, o que te coube. Passaram os anos. Os tesouros cresceram, engrandeceram e, naturalmente, encontraram outras pessoas. Na sucessão do tempo é legítimo e esperançoso que aguardemos por mais tesouros.
Não sei que iniciais possam designar as novas casas, tão dispersas e distantes no espaço, mas a ideia de uma rede alargada de CA (casas de amigos) é reconfortante e não é obrigatoriamente utópica.
Este texto não é uma ilusão nem uma esponja sobre as dificuldades, o sofrimento, a distância, a solidão ou, sobretudo, a finitude. Ele apenas lhes passa por cima, de propósito, neste dia.
Porque a alegria da amizade é mais forte, tão forte que é capaz de afastar as sombras de tristeza e de saudade, ainda que por momentos.
É desses momentos que se trata hoje, 24 de Novembro de 2021.
Sabemos que o sentes tão profundamente como nós, Cristininha.
Obrigado sempre. Parabéns. Beijinhos.