Há em mim o fascínio das palavras. Das suas raízes, da sua grafia, da sua sonoridade e das relações com outras palavras. Há-as que se me afiguram elegantes, bem casadas com o seu significado “objectivo” ou sugerido ou hipotético. A essas, sinto-as em si mesmas como palavras felizes, mesmo que refiram ou traduzam sentimentos dramáticos. Outras há que não me parecem do mesmo modo. Umas e outras, porém, cumprem a sua função e eu chego a pensar que um escritor ou falante perfeito, para além da boa gramática, nunca usaria ao acaso qualquer sinónimo, porquanto cada palavra tem no discurso uma pertinência que não caberia com a mesma adequação em qualquer outra que a substituísse.
Vem isto a propósito de uma expressão muito usada em política, e não apenas, que sempre me causou reticências – a de “maioria esmagadora”. Ou, como também se diz e escreve: “esmagadora maioria”. Para mim é uma qualificação negativa em discursos que se têm por democráticos. Maioria é maioria. Tão só, o que vale por si. Bem gostaria eu que qualquer maioria política, partidária ou outra, dotada e cumpridora de princípios sãos, fosse respeitadora, disponível, acolhedora, serena, magnânima e generosa, o que a tornaria uma maioria ideal.
Agora “esmagadora”! De quê ou de quem e porquê?
José Batista d’Ascenção
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