Nos rostos as marcas da passagem do
tempo, também documentada, nos homens, pela ausência ou embranquecimento dos cabelos,
mas com bem poucas proeminências abdominais, diga-se, em respeito pelos factos.
Receoso destes encontros no que respeita
aos motivos das ausências, particularmente quando são surpresa revelada na
hora, que se quer de alegria, confesso que decidi de imediato ir ao Botânico
pela figura de referência que é para mim aquele professor que me ficou por
dentro e por perto, qualquer que fosse a distância física. Refiro-me ao Dr
Paiva (era assim que lhe chamávamos). Outros houve, claro, de que gostei, mas situava-os
no olimpo das cátedras, no miolo das sebentas e no recato dos gabinetes.
O Dr Paiva era diferente: vibrante,
intenso, apaixonado pelas matérias e pela missão de ensinar. Com ele não havia
“abébias”, ou se sabia ou não, mas estava lá para quaisquer dúvidas, rigoroso,
mas próximo, exigente mas compreensivo, espartano, mas pleno de
disponibilidade. Isso sentia-se nas suas aulas. Nas saídas de campo e nas
visitas de estudo era um espectáculo. Para além disso, houve sempre o cidadão
materialmente descomprometido e o ambientalista atento e escrupuloso, de
atitude cívica exemplar. As suas firmes opiniões nunca cederam a pressões nem
seriam compráveis, porque o autor foi e é uma pessoa de dádiva. Para nós: um
príncipe de generosidade, de sensibilidade, de presença e de estímulo.
O mais interessante do bonito reencontro
de hoje é que ao impulso maior que motivou a minha ida logo se somaram várias
outras razões traduzidas em abraços de amizade sentida e expansivamente
partilhada com muitos colegas e amigos, parte dos quais não via há muito. Foi
um prazer estar e conviver. A Lurdes, minha mulher, que não foi estudante em
Coimbra, mas foi tratada como se o tivesse sido, sentiu-se muito bem e é
testemunha.
Coimbra tem mais encanto na hora dos
reencontros. Para mais no dia do aniversário do meu professor mais querido, que
celebrámos a plenos pulmões.
Um enorme obrigado, a ele, sempre, e aos
organizadores de tão merecida e reconfortante confraternização, com destaque
para o Director do Departamento de Ciências da Vida.