Um livro sobre a condição humana, com extraordinária agudeza de observação e análise. Uma leitura que prende até à dor. «Realidades» tão vívidas e autênticas que se impõem à sensibilidade do leitor. O bem e o mal. A complexidade, as qualidades, os defeitos e as fragilidades do ser humano. A ironia e a esperança. A dignidade da escrita que não envereda pelo sensacionalismo epidérmico. Que nada esconde, mas que não abusa do grotesco e do dramático. Um tema dificílimo de abordar - o da vida das pessoas mais velhas institucionalizadas – tratado literariamente, sem condescendência, mas sem fossar na desgraça, no sofrimento, na miséria e na maldade.
O enredo não incide sobre a vida em lares onde se acumulam pessoas sem ou de fracas posses, onde o horrível não tem nome, mas é ficção realista de algum modo próxima, tratada com arte, e que vai ao essencial de um problema com que as sociedades europeias estão confrontadas. Um drama que se vai acentuar, com a desproporção crescente entre o número de crianças e jovens e o de pessoas fragilizadas pela velhice.
A vida humana medular que é o que é, em páginas que tocam, perturbam e comovem.
Um grande livro que nos ajuda a olhar para nós próprios, para os outros e para o que a todos espera.
A literatura em muitas e boas páginas, que vale a pena ler.
José Batista d’Ascenção