Trabalhos de alunos da Escola Francisco Sanches - Braga |
Ao fim de quase meio século de ditadura, que se instalou facilmente na sequência da desorganização e penúria de dúzia e meia de anos da «república», que substituíra a «monarquia» em 1910, a imensa maioria dos portugueses dos meios urbanos rejubilaram. O «salvador» Oliveira Salazar, que governou com mão de ferro, não se compadecia com a miséria dos pobres e prezava a ignorância dos simples, que preferia analfabetos ou, quando muito, que soubessem apenas ler, escrever e contar: que vivessem da agricultura de subsistência, não soubessem de leis nem de direitos e nunca contestassem a autoridade (“se soubesses o que custa mandar, querias obedecer toda a vida” era dito seu afixado em paredes de escolas e liceus de antigamente). As mulheres eram “propriedade” dos maridos (não podiam ir ao estrangeiro sem a sua autorização) e não havia assistência médica nem segurança social para os portugueses do mundo rural, que eram a maior parte, e até foi preciso ser portador de licença para poder ter um isqueiro. Não havia direito de manifestação nem de discordância política, que a polícia do regime – a PIDE – vigiava continuamente, perseguindo, encarcerando, torturando e deportando por delito de opinião.
Para fugir à mais vil miséria, os portugueses emigravam para países como a França (Paris chegou a ser a “segunda cidade portuguesa”…); outros haviam saído para as colónias africanas, principalmente Angola e Moçambique. Manter as “províncias ultramarinas” (só Angola era maior do que o continente português catorze vezes e Moçambique nove) exigia a mobilização de todos os jovens mancebos para a guerra colonial, iludindo ou tentando iludir, estupidamente, os colonos idos da metrópole de que era possível aguentar a situação militar indefinidamente. Na Guiné-Bissau a guerra de guerrilha nunca foi controlada, desde o seu início, em 1963-65, e frequentemente chegavam à metrópole os caixões com os (supostos) cadáveres dos que caíam em combate. Os retornados do pós-25 de Abril muito viriam a sofrer em consequência da cegueira do regime deposto, que culminou na avalanche trágica do regresso, e que os erros do processo agravaram.
A queda do regime ocorreu à segunda tentativa (a primeira, infrutífera, ocorreu em 16 de Março de 1974, no quartel das Caldas da Rainha), quando os militares de patente intermédia levaram a efeito uma revolta vitoriosa pouco depois, no dia 25 de Abril.
Pela acção dos «Capitães de Abril», em que se destacou admiravelmente Salgueiro Maia, os sonhos libertaram-se numa torrente de alegria e de esperança. Uma festa de liberdade, em que os canos das espingardas dos militares se encheram de cravos vermelhos.
Desde então não conseguimos concretizar os sonhos, mas continua na nossa mão trabalhar para o conseguir. O 25 de Abril franqueou as portas para a liberdade, a justiça e a democracia. Exijamos de cada um de nós e dos nossos concidadãos a assunção desse dever e dessa responsabilidade.
Viva o 25 de Abril.
José Batista d’Ascenção