Creio que mexo em assunto interdito. Mas, como os meus pobres registos praticamente não têm leitores, não haverá ondas de indignação ou de fúria que me esmaguem. E, se houver, que haja.
Dos zunzuns a que não é possível fugir, parece-me que o futebol, como outras áreas, é um mundo de corrupção.
Reconheço que cumprirá uma função social. Se quase tudo é frustrante, porque não o amor a um clube, para compensação afectiva, ainda que ilusória? A natureza humana é como é e tem de haver escape para as decepções da vida, a raiva e a violência que habitam no fundo de nós.
Daí que cada equipa não jogue com as adversárias, mas contra elas. E vale praticamente tudo. Somos cegos para as falhas da equipa eleita pela nossa preferência e exacerbamo-nos com as dos adversários, que é preciso arrasar, dentro e fora do campo, com ou sem merecimento.
Guerra é guerra.
Insultos, ofensas, agressões, vândalos organizados em claques têm justificação, se são dos nossos, apenas se tornando inaceitáveis se vêm do "inimigo".
Os negócios são opacos, as obras são faraónicas e é preciso alienar o público, para que não se discutam as formas de obter receita, que os impostos (de quem os paga...) cobrem.
Em Braga tivemos a construção de um estádio caríssimo, que continuamos a pagar, antes de um hospital público decente e da requalificação dos edifícios escolares. Prioridades.
Por isso, concordo com o que escreveu a economista Susana Peralta no jornal «Público» de 22 de Setembro sobre a impropriedade do dito do Presidente da República: «we are Cristiano Ronaldo». Eu não sou. Certo que, quando estive a cerca de 11 000 km do país, não encontrei ninguém que conhecesse o nome «Portugal», mas todos sabiam o de Cristiano Ronaldo. Só que, então como agora, continuo sem saber o que ganham com isso Portugal e os portugueses em geral.
Futebóis, cada vez mais massivos na comunicação social, pública incluída.
Repetindo-me, digo que não desgosto do jogo em si (que, em casa, vejo, por vezes, sempre sem som), eu que também fui praticante e elemento desequilibrador (em prejuízo da minha equipa) e que nunca perdi por mais de dez.
Fica escrito.
José Batista d’Ascenção