A política sempre me fascinou tanto quanto me repugna. Já escrevi algures que o mundo (das pessoas), em geral, não se move por princípios nem por boas intenções, antes por interesses e por paixões. Isto é céptico e simples, bem sei. Mas assumo-o, por razões de princípio e motivos de clareza.
O sistema político russo é um regime de assassinos, que, na substância, pouco terá variado ao longo dos séculos. Ali como em muitas, muitas paragens. A minha insuficiência em História impede-me de elaborar ensaios sobre a matéria, mas não pode anular a minha liberdade de dizer o que penso e de que sou o único responsável.
Algo que me impressiona nos porta-vozes de Putin, desde o tremendo Lavrov ao incorpóreo Pescov é a frieza firme da linguagem a tentar impor uma leitura política que não cola com a realidade. A representação do papel é, no seu género, impressionantemente coerente, num e noutro, mas ocorre-me que, no caso de Pescov, se limita prudentemente à voz, sempre serena e calibrada, hirta como o microfone empunhado por uma foto estática, de meio corpo. Este homem existe mas aparece-nos como se fosse um dispositivo maquinal. Uma imagem que poderia funcionar como uma espécie de avatar político.
Entretanto, no mundo a(s) democracia(s) regride(m) e os direitos humanos são ideais muito pouco universais.
Resta que, com imperfeições e falhas e crimes, há uma fracção da humanidade que não deixa de lutar por dignidade, justiça e liberdade. A esperança reside aí.
Suponho.
José Batista d’Ascenção
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