Nem sei bem porque é que me irrita ouvir dizer «ésse-éne-ésse» em vez de «serviço nacional de saúde». Para mim é como se a instituição, para além de enormíssimas dificuldades, não tivesse direito ao bom nome.
Onde as siglas também me incomodam é no meu domínio profissional. Não digo educação, para não ultrajar o conceito, nem ensino, para não ser mentiroso, direi o sistema escolar que temos. Mas aqui, a multiplicidade, a diversidade e até a variabilidade das siglas fazem jus ao vazio que enfuna os normativos e a língua de pau de actas e afins. Servem para nada, que deve dar jeito a variados interesses, não necessariamente os de formar bem a criançada e juventude.
Nos partidos são úteis. A gente identifica-os rapidamente sem lhes pronunciar o nome, que é pouco agradável no caso de alguns. Dizem que são necessários à democracia, o que deve ser verdade, mas não há prova definitiva de que assim seja. Suspeito que nós, humanos, é que não concebemos o conceito de outro modo. Inventamos condições, convenções e rótulos porque temos que nos encaixar e encaixar os outros nas categorias que introduzimos na cabeça. E não queremos nem sabemos sair dessas gaiolas.
Um dia, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, apresentava eu um tema ambiental numa aula do Professor Vitor Madeira, que não era um prodígio de empatia na opinião dos alunos, e referi-me sempre ao dióxido de carbono (CO2) como «cê-ó-dois». Foi forte a reprimenda: acaso gostaria que me tratassem por JB? Bem lhe podia ter dito que houvera antanho um jogador famoso do Vitória de Setúbal a quem sempre ouvi chamar JJ. Mas, a minha discordância foi tão acentuada que não contemplou aquela diplomática observação.
Agora, que estou farto de siglas, isso é verdade.
José Batista d’Ascenção
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