domingo, 5 de novembro de 2023

Pedagogia de outros tempos (I)

O meu amigo António Bastos, professor aposentado do grupo de Português/Francês, foi convidado, em almoço-convívio de antigos alunos, a escrever sobre os tempos em que frequentou o Colégio de S. Miguel de Refojos (Cabeceiras de Basto). O seu texto, intitulado «Reflectir/Recordar» (*), tem interesse afectivo, pedagógico e documental e está escrito primorosamente, numa linguagem clara e precisa. Diz ele: 

À direita: António Augusto Carvalho Leite Bastos

[...]

Com muito gosto, confirmei a minha presença no referido convívio.

E, acto contínuo, começaram a afluir à minha memória, em catadupa, imagens imorredouras, imperecíveis, sobre o meu passado no Colégio, que frequentei até ao 5º ano liceal (actual 9º ano de escolaridade).

Foi um mundo redivivo, ressuscitado, a que «assisti», numa autêntica visão caleidoscópica: alunos, professores, directora do Colégio, funcionários, espaços, paisagens…

Foi uma «peregrinação» pelo passado de indesmentível fascínio, regozijo, que me fez regressar à minha juventude. E sonhei. «Pelo sonho é que vamos», diz o poeta Sebastião da Gama.

Confesso que sou um sonhador.

Chegado o dia [aprazado], lá marquei presença no referido almoço-convívio.

Dia festivo, gratificante, pela oportunidade de, mais uma vez, reencontrar velhos amigos da minha e de outras gerações, muitos dos quais já não via há algum tempo.

Antes evocar a minha passagem pelo Colégio, analisemos, sucintamente, a sua história.

Foi um mosteiro beneditino até à época da implantação do liberalismo, altura em que, por decreto de 1834, Joaquim António de Aguiar extingue as ordens religiosas.

A parte poente do edifício foi destinada aos serviços camarários. A metade nascente e quinta foram deixadas ao abandono.

Posteriormente, o Estado vende, em hasta pública, o mosteiro e quinta adjacente ao comendador A. Fernandes Basto.

Em 1944, o edifício é comprado por José Gonçalves Ferreira aos herdeiros do comendador. A 29 de Setembro desse mesmo ano, o Colégio começou a funcionar como internato, tendo, como director, José Gonçalves Ferreira.

Eram leccionados o ensino primário e o ensino liceal. O internato termina no ano de 1949.

Em 1955, ingressei no Colégio. A directora pedagógica era a Dra Emília Marinho da Mota, pessoa afável, compreensiva, de fino trato e de forte empatia junto dos alunos e de quem, com ela, contactava.

O Colégio era uma instituição particular de ensino, com oferta educativa do 1º ao 5º ano do liceu (actuais 5º a 9º anos de escolaridade).

Os alunos teriam de se submeter aos exames nacionais no 2º e 5º anos (actuais 6º e 9º anos de escolaridade, respectivamente), realizados no liceu Sá de Miranda, em Braga. E os resultados eram dos melhores. O Colégio era uma referência.

No tocante à disciplina, como reflexo da política do Estado Novo, havia um certo rigor, pois os alunos eram «formatados» em ordem a acatar o que lhes era imposto, sem grandes discordâncias ou reclamações. Devia reinar a ordem para o normal funcionamento da instituição escolar. A disciplina acima de tudo.

O Colégio era frequentado por alunos de ambos os sexos. As turmas eram mistas, embora a entrada para o mesmo e os recreios fossem separados.

Maioritariamente, os alunos eram da vila e do concelho de Cabeceiras de Basto. Havia também alunos de concelhos limítrofes, nomeadamente, Ribeira de Pena, Mondim de Basto, Celorico de Basto e de outras paragens, pois, nestes concelhos, não havia estabelecimentos de ensino que os pudessem receber para prosseguimento de estudos, acabada a escola primária (actual 1º ciclo).

Se não tivesse existido este estabelecimento de ensino, muitos jovens teriam ficado apenas com a 4ª classe do ensino primário, perdendo-se, assim, potenciais talentos.

António Augusto Carvalho Leite Bastos

(*) In: «Cabeceiras de Basto. Miscelânia Monográfica». Associação de Antigos Alunos do Colégio SMR. 2023. Pg 12-14

(continua)

Afixado por José Batista d'Ascenção

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