quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

«Braga Natural»

Não recomendo prendas de Natal, nem de qualquer outra época. Muito menos se e quando os preços dos possíveis presentes não são propriamente módicos. Nem mesmo quando se trata de livros, de bons livros.

Que o tempo dos livros para “enfeitar” estantes já lá vai (embora não em todos os casos...).

Eu sou dos que gostam de livros. Tanto que não posso comprar todos os que queria: nem tinha dinheiro, nem tinha tempo (de vida) para os ler.

Um livro que gostei de ter nas mãos, por várias vezes, foi o livro «Braga Natural», com fotografias de João Ferreira, textos de Daniel Santos e fotografia aérea de Filipe Soares, prefaciado pelo vice-reitor da Universidade do Minho, Hernâni Gerós. A edição é do Município de Braga, de Junho de 2025.

A obra tem impressão de qualidade e dá uma excelente ideia da fauna e da flora do concelho de Braga. Pena o preço não ser convidativo para a generalidade dos munícipes.

Em futuras edições, que eu desejo que haja, duas gralhas devem ser corrigidas: os nomes científicos do sobreiro -  árvore símbolo nacional de Portugal desde 2011 - que é «Quercus suber» (e não «Quercus sobur», ver páginas 30 e 90) e de um abelhão polinizador, que se designa «Bombus terrestris» (e não «Bumbus», ver páginas 123 e 193).

Mais um desejo: convinha que a edilidade disponibilizasse o livro a um preço mais acessível. 

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Poesia, Ciência, Sentimento

O nosso poeta maior viveu no século XVI e publicou a sua obra épica há mais de 450 anos (em 1572). Senhor de extraordinário talento, servido por uma memória prodigiosa, curioso, culto e erudito como poucos no seu tempo, vivia a vida com uma intensidade só ao alcance de espíritos decididos. As suas qualidades e o seu virtuosismo poético e intelectual, o gosto e o afinco pela composição poética, deixaram-nos uma obra ímpar, em versos líricos e épicos.

Camões foi único pela vastidão, originalidade e subida qualidade da sua obra, o que não significa que não tenhamos tido no passado, como temos no presente, e teremos seguramente no futuro, outros vates de grandeza universal. Isso também o engrandece.

Os estudos sobre Camões e sobre a obra camoniana serão sempre bastos e não se vê que possa esgotar-se o manancial, tão rica é a fonte de que brota. Haja curiosidade, sensibilidade, conhecimento e talento para abordagens originais, úteis e, tanto quanto possível, belas. Assim mesmo, poucos se abalançariam a estudar as plantas – todas as plantas – em toda a obra de Luís de Camões. «Grande nau, grande tormenta» – versejou epicamente o próprio. «Colossal desafio, trabalho em que porfio» decidiu Jorge Paiva.

Decidiu e não desistiu. À sua análise não escapou árvore, arbusto ou erva, folha, flor ou fruto da poesia de Camões. Tudo esquadrinhou em cada verso: os termos, os conceitos, a rima, a métrica e as suas implicações na escolha das palavras relacionadas com espécimes vegetais. Do vasto edifício dos seus conhecimentos sobre botânica, a que se dedicou sem interrupções ao longo de uma vida longa e profícua, o especialista das plantas adentra-se nos labirintos da elaboração poética, na riqueza e beleza da polissemia, no rigor da expressão que serve múltiplos significados, na elegância do versejar, e extrai de tal mundo a decifração clara, exacta e fundamentada dos muitos e variados exemplares de vegetais, que coloca à disposição do entendimento e das vivências dos comuns mortais. E então ficamos a saber de que plantas se trata, porque são umas e não podem ser outras, seja pelas suas características, seja pelos nomes que na altura lhes eram dados ou fosse pela geografia que então era conhecida ou por onde se viajava. A poesia camoniana, se não fica mais poesia, fica mais entendível, logo mais bela, com o contributo de Jorge Paiva. E mais vasta (ou mais alargada) aos nossos olhos. E mais profunda. E mais original. E mais vivida. E mais nossa. Nossa de todos os que a lêem.

O curioso nisto é tais acréscimos virem de um botânico, sendo que dificilmente poderiam vir de algum especialista de quaisquer outras áreas. Nem mesmo poderia vir de um botânico qualquer. Neste caso, o botânico que elucida a obra poética é ele, também, um poeta à sua maneira. Um poeta da Natureza. Um príncipe de sensibilidade. Um ser humano de enorme generosidade.

A quem se agradece mais esta lição que é o livro «As Plantas na Obra de Camões».

Com carinho e admiração.

José Batista d'Ascenção