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As crianças e os jovens de hoje ficariam chocados se a sociedade retrocedesse à infância e juventude das pessoas com idade superior a cinquenta anos. Em termos cronológicos, não foi há muito tempo. No entanto, na rua ou em casa, na escola, no trabalho, nos espaços públicos ou comerciais, nos transportes, públicos ou privados, nos recintos desportivos ou nos templos religiosos, nas cidades e no campo, pessoa alguma há que (praticamente) não tenha sempre uma das mãos ocupada com um telemóvel. Pode admitir-se que há pessoas não largam aquele instrumento, excepto para dormir, mas mesmo aí esta asserção carece de certeza indubitável.
Nas escolas, em Portugal, foram notícia, por diversas vezes, agressões de alunos ou de encarregados de educação (ou de ambos) a professores que tentaram retirar telemóveis a alunos por uso indevido durante as aulas (brincando, recolhendo som, fotografando ou filmando para partilha em tempo real ou posterior, etc.). Nessas situações, perante o confisco do apetrecho, os jovens e os seus pais, quase instintivamente, reagiam de modo furioso e violento como em tempo algum se viu. Professores houve que, impressionados com as reacções que poderiam advir, cedo puseram de parte a possibilidade de tocar em qualquer instrumento tecnológico dos alunos. Mesmo quando alertados para o facto de certos jovens, até com o telemóvel no bolso, serem capazes de digitar mensagens, adoptaram a posição de, em caso algum, exigirem a sua entrega, até por também saberem que há meninos que trazem consigo mais do que um. Mais comum passou a ser a exigência de que, durante as aulas, o telemóvel esteja recolhido, e que, nos dias de teste, cada aluno coloque o seu junto dos demais sobre uma mesa, próxima da secretária. Esta medida não previne tudo, mas não oferece resistência violenta e não dá azo a resultados que suscitem batota em escala detectável.
Claro que houve professores que desenvolveram estratégias para o uso do telemóvel durante as aulas, mas não é fácil adaptar todas ou a maioria das lições a metodologias desse tipo. Por demonstrar está também que estas práticas tenham vantagem sobre outras, menos tecnológicas, na aprendizagem.
Refira-se que o telemóvel passou a ser um instrumento que dá para milhentas coisas, até telefonar. Nas redes sociais, em jogos, em consultas e pesquisas diversas, na obtenção e troca de imagens (fotografias ou outras), na leitura de jornais e de notícias avulso, no envio de «mails» e de mensagens curtas, só com abreviaturas, os dispositivos electrónicos de comunicação tornaram-se apêndices do corpo e da personalidade, transformando cada humano num ser biónico, que só se sente existir se «ligado à máquina». E, quando «ligado à máquina», desliga-se quase automaticamente até dos que tem ao lado.
É tanto assim que é vulgar ver famílias à hora das refeições em que cada um come enquanto olha e interage com o «gadget» que tem numa das mãos ou sobre a mesa. Como se estivesse, e está, sozinho.
Porém, não (me) parece uma questão de moda. Será talvez um meio de fugir ao contacto e ao confronto ou pelo menos ao convívio real com o próximo, mesmo quando fisicamente ao lado, o que pode exponenciar enormemente o isolamento e a solidão de cada um.
Como será dentro de duas ou três décadas?
José Batista d’Ascenção
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