Extracto de um texto intitulado «As pedras e as palavras», amavelmente cedido pelo Professor Galopim de Carvalho. Por motivos de extensão, fragmentou-se o texto, optando-se por publicar primeiro a segunda parte - «as palavras» (em 22 de Fevereiro), e (só) agora a primeira parte, relativa «às pedras» (como se comprova, a ordem de publicação dos extractos não perturba nem a harmonia nem a pertinência do seu conteúdo)
As pedras, modo mais popular de dizer as rochas, com as quais convivi profissionalmente durante mais de meio século, contam-nos a história do nosso planeta. Através dos seus minerais, da textura e de outros atributos falam das causas que lhes deram origem, das condições ambientais (pressão, temperatura, quimismo) em que foram geradas ou transformadas e muitas delas, ainda, da data do seu nascimento. São elas que conservam no seu seio os fósseis, testemunhos preciosos que nos permitem contar a história da Vida.
As pedras, modo mais popular de dizer as rochas, com as quais convivi profissionalmente durante mais de meio século, contam-nos a história do nosso planeta. Através dos seus minerais, da textura e de outros atributos falam das causas que lhes deram origem, das condições ambientais (pressão, temperatura, quimismo) em que foram geradas ou transformadas e muitas delas, ainda, da data do seu nascimento. São elas que conservam no seu seio os fósseis, testemunhos preciosos que nos permitem contar a história da Vida.
Sem que muitos deem por isso, as pedras ocuparam, desde sempre, um espaço importante no nosso quotidiano. Nas suas cavernas, os nossos antepassados da Idade da Pedra encontraram abrigo e segurança e foram pedras as suas primeiras e as mais importantes matérias-primas. As pedras fortificaram os castros da Idade do Ferro e ergueram castelos e palácios ao longo da História. Estão nas choças dos primeiros povoados e fizeram a monumentalidade de assírios, egípcios, gregos e romanos, bem como a do Renascimento e do Barroco. Estão nas calçadas e pavimentos que pisamos e na estatuária de todos os tempos. Estão no ferro, no cimento, na brita e na areia do betão e, ainda, na cal que alveja o casario alentejano e algarvio. Estão nas amplas vidraças e nos caixilhos de alumínio da moderna arquitectura urbana. Fornecem todos os metais com que se constroem navios, comboios, aviões, automóveis e naves espaciais e estão na base de todos os electrodomésticos. Estão na televisão, no computador e no telemóvel. Estão nas baixelas e nas loiças de cozinha, nas jóias, nas fibras sintéticas, que tomaram o lugar do linho, do algodão, da seda ou da lã, e no silicone dos implantes em medicina reconstrutiva. Do sílex e do bronze dos primeiros machados à pechblenda (o mineral de onde se extrai o urânio e suporta a terrível ameaça nuclear), passando pela pederneira de mosquetes e bacamartes e pelos pelouros de catapultas e bombardas, as pedras foram e são uma constante na tenebrosa e altamente proveitosa (para os chamados “senhores da guerra”) indústria bélica, um flagelo que, numa caminhada de centenas de milhares de anos, sempre acompanhou a humanidade. No seu inesgotável engenho, o homem retirou das pedras todas as matérias-primas com que fez o progresso em paz, mas também, desgraçadamente, a guerra.
A. M. Galopim de Carvalho
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