Quer a gente sossegar e não consegue. Quer fazer algo e não sabe como. Somos pequeninos, muito pequeninos e gritamos porque somos (e nos sentimos) pequeninos (este texto também é um grito). Porque queremos ouvir-nos, supondo que alguém nos ouve. E não escutamos. Não guardamos silêncio. Não reflectimos suficientemente. Não ouvimos a dor muda dos que não têm palavras. E atropelamo-los com a nossa excitação. Não respeitamos o silêncio mortal dos que ficaram endurecidos pelo sofrimento. E que não toleram que lhes toquem nas feridas. Ou toleram porque a dor é tal que ultrapassou o limite da sensibilidade que os faria reagir. O que fizemos de nós? O que fizemos dos nossos irmãos? O que fizemos do nosso país? Da nossa Terra? Do nosso chão? Impantes, esquecemos as origens, tão próximas, tão pobres e tão humildes. Arrogantes, temos receitas para tudo, até para desprezar os simples que não querem nem sabe(ria)m viver fora do meio que os viu nascer. Das nossas origens. Do nosso território, de onde migrámos, ia escrever fugimos, para as "aldeias" maiores do país, chamem-se Lisboa, Porto ou Coimbra…
Vamos “queimando” o país, em dívidas sempre, e pelo fogo, real, nos meses infernais do Verão. “Queimamo-lo” ainda pela falta de nascimentos, pelo mau funcionamento das famílias, que não educam, da escola, que ensina pouco e forma mal (como podia?...) e pela política que impõe - e chega a sugerir explicitamente! - a emigração dos jovens.
E contudo, Portugal, não está pior agora do que em qualquer outra altura da sua História. Não tenho saudades de qualquer época do passado. Tenho-as do futuro, que não me pertence, e que muito gostaria de ver sorrir às crianças e jovens, de hoje e de amanhã.
Pelo que não nos é permitido perder a esperança. À vida, com coragem renovada. Sempre. Sem esquecer.
Mesmo que esmagados pelo luto, a toda a hora é a hora, durante a tormenta e passada que ela seja.
In memoriam.
José Batista d’Ascenção
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