quinta-feira, 30 de maio de 2019

Lítio milagroso, como o petróleo

Fonte da imagem: aqui.
A investigadora Marina Brito, do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), em Braga, considerou hoje que o lítio pode ser o petróleo de Portugal, podendo o país “assumir um lugar cimeiro" na produção de baterias.
Segundo Marina Brito, Portugal é "dos únicos" países que tem condições para "cobrir todo o ciclo das baterias, desde a mineração (do lítio) à reciclagem" dos equipamentos, apontando que “há toda a economia circular" com base nas baterias.
Em sua opinião, “se olharmos para os países da Arábia Saudita e dessa zona, vemos que o petróleo não é uma coisa má. Tem é que ser muito bem pensada a forma como vai ser gerido esse mineral, porque o lítio é o futuro", sublinhou. É o que se pode ler aqui.
Estas notícias são boas, embora (me) causem receio, sobretudo quando se faz a comparação com o petróleo. Lembro-me da Venezuela, um dos países mais ricos do mundo em petróleo, que está na situação em que está. Também «ainda sou do tempo» em que em Portugal havia governantes a apregoar que os eucaliptos eram «petróleo verde».
E talvez sejam, mas em proveito de alguns e prejuízo de todos, mesmo dos que (julgam que só) beneficiam dos lucros.

José Batista d'Ascenção

segunda-feira, 27 de maio de 2019

A dor como sintoma e alerta

Quando os meus filhos eram pequenos e tínhamos por vizinha do terceiro andar a D. Sameirinho, senhora muito simpática, educada e diligente, lembro-me do espanto silencioso do mais velho quando, após conversa no elevador, ficara a saber que, às vezes, a nossa estimada vizinha sentia dores na perna que não tinha, porque há muito lhe havia sido amputada e era substituída por uma prótese.
Acabados de entrar em casa, ele queria saber e eu comecei por lhe explicar que, em geral, as dores físicas resultam de lesões (reais ou potenciais) de que é transmitida informação aos nossos centros nervosos, a partir de terminações distribuídas pela superfície e por todas as regiões do interior do corpo, informação que essas zonas especializadas do cérebro processam e de que resultam as sensações que nos agradam ou nos desconsolam, nos proporcionam conforto ou sofrimento, etc. Pouco dado a esperas, o garoto não compreendia. - E, então, como é que vêm informações de um sítio que já não está no corpo, como a perna da D. Sameirinho? Lá adiantei que há situações muito curiosas e ainda mal compreendidas, em que o nosso cérebro pode manter uma «memória» de certos órgãos do corpo após a sua amputação, a qual, em certos casos e em certas pessoas, lhes faz sentir dores em partes do corpo perdidas, como braços e pernas, como se elas continuassem a existir. E para compensar a pobreza da explicação, disse-lhe que também pode acontecer o contrário: haver lesão causadora de dor, numa qualquer parte do corpo, mas não se sentir dor nenhuma… A perplexidade do rapaz, inversamente proporcional à sua compreensão, aumentava e traduzia-se em mais dúvidas. - Para que é que servem as dores? Se não existissem era muito melhor - insistia ele.
Aqui, senti-me mais à vontade, e fui por ali fora. Quando nos queimamos ou entalamos fugimos ou retiramos a parte do corpo afectada, por exemplo o dedo ou a mão, e se continuamos a ter dor fazemos alguma coisa para a tratar. Se não for suficiente, vamos ao médico. Ora, se nada nos doesse, nada fazíamos, o que podia ser muito perigoso, como no caso de uma ferida que deve ser desinfectada, caso contrário, a infecção podia agravar-se e conduzir à morte. Então, a dor, explicava eu, pode funcionar como aquela luzinha amarela a piscar no painel do carro quando há pouca gasolina. O exemplo funcionou: - Como daquela vez em que estivemos no Algarve, e essa luz avariou e tu andavas às aranhas, sempre com medo, a anotar os quilómetros quando enchias o depósito? - perguntou ligeiro. - Isso mesmo – respondi. Entendíamo-nos. Contudo, a insatisfação mantinha-se: – Mas eu não gosto de ter dores - volvia. E da minha parte: – Claro, ninguém gosta. Mas fica sabendo que, muitas vezes, se elimina a dor sem se resolver o problema (não acrescentei, na altura, que às vezes, nada mais resta…), o que, sendo necessário na hora, não pode fazer esquecer a causa do mal. E falei-lhe então de casos do desporto em que, caído um jogador durante uma partida qualquer, logo entra um técnico de socorro e, quantas vezes, aplica um «spray», que não faz mais do que eliminar as queixas, porque bloqueia as terminações nervosas dessa zona da pele, mas pode esconder alguma lesão mais grave, que o atleta, que devia parar imediatamente, não sentindo dor, e continuando a esforçar-se, acaba por agravar. Poucos anos mais tarde, voltaríamos a este tema, com um exemplo próximo: um dos filhos da D. Glória, a senhora que trabalhava na nossa casa, praticante de futebol, lesionou-se num joelho, mas, porque gostava muito da modalidade, fez tudo para continuar a jogar, enganando, enquanto pode, os responsáveis e até os técnicos do seguro de saúde. Resultado: acabou impossibilitado e afastado sem indemnização para tratamento porque o que sempre declarara foi usado contra si.
Na nossa conversa de tempos antes tinha vincado que a função dos analgésicos é aliviar ou minimizar a dor, mas que devemos ter cuidado para não mascarar as suas possíveis causas, de que as dores são sinais de alerta.
Também falámos da eliminação da dor pelas anestesias durante as operações cirúrgicas, que consistem basicamente no uso de substâncias químicas que bloqueiam ou inibem terminações nervosas, que podem limitar-se às zonas da intervenção (anestesia local), resultando na impossibilidade de a informação alcançar e ser processada nos centros nervosos, impedindo que sintamos dor.
E ainda recorri ao exemplo das queimaduras solares dolorosas, tão incomodativas, e da ausência de dor naquelas que resultam de contacto suficientemente demorado com objectos a altas temperaturas (queimaduras de 3º grau), porque, neste caso, as terminações nervosas são simplesmente destruídas.
Não adiantei mais porque, entretanto, aumentara o apetite do meu interlocutor, que sugeriu que fôssemos comer, já que a fome que sentia, no seu dizer, era tão má como as dores. 

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Gritarias

Fonte da imagem: aqui.
Os portugueses, como outros povos do sul da Europa, não são propriamente amantes do silêncio. A sonoridade e exuberância das manifestações pessoais e sociais tem variações de norte a sul e do interior (leste) até às ilhas (mais ocidentais), mas, por comparação com os povos da Europa setentrional, o «retrato» aplica-se na generalidade.
Não se pode saber com precisão se tal característica tem alguma relação com o dito: «casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão» ou se no adágio podemos (devíamos?) substituir «pão» por «educação». E admitindo as duas opções, também não saberíamos determinar o peso de cada um dos respectivos conceitos na «definição» do nosso modo de ser.
Um outro ditado, porventura menos conhecido, que ouvi a antigos, afirma(va): «casa que não é ralhada não é bem governada». Nos dias que correm, em muitas casas de família, normalmente pouco numerosas, os «ralhos» cedo deram lugar ao silêncio nas relações afectivas, mortas pela usura do tempo, pelo efeito de angústias e problemas ou, quiçá, pela abundância de solicitações. E também aqui não se sabe o que é pior: se a manifestação incontida dos instintos e a exaltação, se a corrosão silenciosa, sobretudo quando as consequências atingem crianças e jovens. Mas, o ditado em si talvez fundamente a ideia arreigada, e muito praticada, de que falar alto é ter razão ou, pelo menos, faz calar as vozes (e anula os sentimentos) discordantes – método mau, de efeito ilusório.
Seja como for, o facto é que somos (inconsequentemente?) barulhentos:
- na propaganda dos políticos;
- nas guerras do «pontapé na bola»;
- nas «praxes» dos estudantes do ensino dito superior;
- nas manifestações de grupos profissionais, sejam professores, enfermeiros ou outros (quem sabe se confiantes num outro dito pouco elegante: «quem não chora/grita não mama»);
- nas festas (que servem para esse fim), mas também no dia-a-dia das pessoas, em casa e nas ruas, nos cafés, nos mercados, etc;
- nos recreios e nos corredores das escolas, e muito especialmente nas salas (que deviam ser) de aulas;
- e... nas redes sociais, com som ou sem ele, porque há muitas formas de gritar.
Assim mesmo, viva a liberdade de ser livre. Temo-la e usamo-la. Ao menos isso.
Convinha era não abusar.

José Batista d’Ascenção

sábado, 18 de maio de 2019

Gestores (de política e negócios), certos comendadores e outros pobres

Educação e Justiça - o que faz falta.
Na sua longa História, Portugal nunca foi um país de riqueza económica distribuída, nem mesmo quando era uma potência naval, nem quando se tornou o centro de um império com uma vastidão gigantesca, atendendo às dimensões do território continental e ao número dos seus habitantes. Não é fácil ao leigo compreender como é que um pequeno rectângulo com pouco mais de um milhão de pessoas deu lugar à «construção» de um país com uma área cem vezes maior, em que disseminou com sucesso a sua língua, como aconteceu com o Brasil. E talvez seja ainda mais difícil perceber como é que, dominando tanto território na América do Sul, nas costas ocidental e oriental da África e na Índia, Portugal nunca fez enriquecer materialmente (nem educacionalmente…) a generalidade dos portugueses nem, muito menos, os povos que subjugou. Consciente das insuficiências e limitações pessoais, deixo à História o que é da História. Adiantaria só que, ao longo de séculos de monarquia e, desde há cerca de cento e dez anos, durante a república, em ditadura ou em liberdade, isolados ou abertos à comunidade internacional, contando apenas com os nossos míseros recursos, no tempo de Salazar, ou gerindo avultadas somas, oriundas da Europa, fomos sempre fracos em desenvolvimento económico e bem-estar social. As razões serão díspares e não cabem em análises curtas. O que importa aqui é que não há (ou eu não vejo) sinais de que os tempos que correm e os que se perspectivam para o futuro próximo destoem, em termos comparativos, e significativos, do que sempre foi. Do que vivi e me lembro e do que estudei, ficou-me sempre a impressão de que o analfabetismo, a ignorância, e a falta de formação são factores que limitam severamente a «produtividade» dos portugueses e, mais do que isso, permitem todo o tipo de manipulação e ludíbrio, que favorece(ra)m a exploração e a corrupção, fosse nos tempos de servidão da ditadura, seja em tempo de democracia formal.
Perante desmandos inqualificáveis, sem acção lesta da Justiça, o povo olha com pasmo e resignação (ou nem sequer olha…) e os protagonistas do poder político, fazendo leis a preceito, e os agentes económico-financeiros e os instalados que delas beneficiam, amanham-se sem constrangimentos, hipotecando a qualidade de vida actual e futura da imensa maioria das pessoas, na maior e mais plácida impunidade.
Quem viu as imagens recentes de um dos muitos financeiros e outros poderosos que prestaram declarações perante uma comissão de deputados não pode ter deixado de se sentir chocado com o desplante com que o interrogado se riu do país, das suas instituições e das suas leis. Chocados também se dizem os políticos hábeis, mas não sabemos se é mais por cálculo eleitoral, em tempos de campanha.
A eurodeputada Ana Gomes, algo dada a palavras e atitudes justiceiras, sugeriu que o governo deite a mão aos bens dos que se tornaram grandes devedores às instituições de crédito salvas com o dinheiro dos contribuintes. É fácil concordar com ela. Só não se aceita que as leis não sejam claras e justas e aplicadas a todos. Não se aceita, mas percebe-se minimamente, porque elas foram feitas, precisamente (ou seja, intencionalmente) para proteger quem protegem.
E não são os pobres.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Porque (e para que) transpiramos

Fonte da imagem: aqui.
De comum, quando sentimos calor começamos a transpirar. A pele que reveste o nosso corpo apresenta inúmeras estruturas glandulares – as glândulas sudoríparas – com o poro de exsudação virado para o exterior, por onde é libertada água e certas substâncias nela dissolvidas, quando os mecanismos de refrigeração do corpo são accionados. Portanto, a transpiração (sudorese) é fundamentalmente um dos processos de refrigeração do corpo, que é desencadeado quando a (sua) temperatura tende a aumentar, mantendo-a ou fazendo-a regressar aos valores fisiológicos de cerca de 37ºC (graus centígrados ou Celsius).
A base do processo é fácil de entender: A água absorve grandes quantidades de calor quando aumenta a sua temperatura e quando passa do estado líquido ao estado de vapor. Ora, quando a água libertada pelas glândulas sudoríparas forma as gotas que perlam a superfície quente da pele, este calor é absorvido em grande escala no processo de evaporação, originando um arrefecimento que pode traduzir-se numa sensação de frio em quem, transpirado, se recolheu à sombra e ficou uns minutos a descansar.
Sendo a transpiração um processo fundamental de regulação da temperatura do corpo, qualquer factor ou processo que a impeça reveste-se de enorme perigo. É conhecido o caso do maratonista português, Francisco Lázaro (1888-1912), que, imediatamente antes da maratona olímpica de Estocolmo, em 1912, decidiu besuntar-se com sebo, uma gordura animal, a fim de impedir a transpiração. O risco era enorme, mas, provavelmente, o nosso atleta ignorava-o, desafiando a morte. E ele morreu, no hospital, sem ter chegado à meta, comprovando que a transpiração é um processo fisiológico imprescindível.
Como dito acima, o fluido da transpiração é essencialmente água, contendo sais minerais, como o cloreto de sódio (sal comum que usamos na cozinha). A água e os sais minerais dissolvidos não causam odor perceptível. Em pessoas que desempenham trabalhos físicos esforçados ou pessoas que caminham muito podem ver-se, no Verão, manchas esbranquiçadas na roupa, na zona da «cova do braço», ou nos sapatos, resultantes da acumulação de sal por evaporação da água. Há, porém, um (outro) tipo de glândulas sudoríparas concentradas em certas zonas da pele, como por exemplo as axilas, o couro cabeludo e a zona genital, as quais eliminam resíduos do metabolismo que estão na origem de odores desagradáveis. Em certas pessoas, com características metabólicas particulares, ou em condições de «stress», ou quando se ingerem certos alimentos em abundância, por exemplo alho ou cebola (que possuem compostos ricos em enxofre), esse efeito pode ser aumentado. Como a nossa pele é povoada por milhões de bactérias (a «flora» da pele), algumas delas consomem restos de células mortas e resíduos da transpiração, metabolizam-nos e produzem outras substâncias químicas (outros resíduos) com odor forte e desconfortável – o cheiro a transpiração. Mais invulgarmente, quando a alimentação é pobre em hidratos de carbono (amidos e açúcares) e as células têm que recorrer à degradação de proteínas (após grandes esforços físicos) ou quando se ingerem doses excessivas de carne (com grande riqueza proteica), o excesso de amónia produzido não pode ser transformado no fígado (o que originaria ureia, depurada nos rins) e é eliminado através do suor, que pode então cheirar a «urina».
A transpiração excessiva pode dever-se a factores desconhecidos ou ser causada por diversos estados de doença.
Para camuflar o odor a transpiração usamos «desodorizantes», em cuja composição, entre várias substâncias químicas, figuram álcoois e algum perfume. De resto, o vulgar álcool etílico (etanol) para uso sanitário, bom solvente de compostos aromáticos, pode, pontualmente, ser usado para remover bactérias e os (seus) resíduos odoríferos dos sovacos, esfregando-os com dois ou três mililitros daquele álcool contidos na concha da mão. Para além da eliminação do odor obtém-se uma sensação imediata de frescura e higiene. Contudo esta não é uma solução de rotina dermatologicamente aconselhável, devido aos efeitos de ressecação e possível irritação local da pele por efeito do álcool. Outro componente dos desodorizantes comuns, capaz de produzir um efeito indesejável, é o alumínio. As substâncias que o incluem podem originar a obstrução dos ductos das glândulas sudoríparas, caso em que a água fica retida fazendo aumentar o tamanho glandular, levando, eventualmente, à formação de nódulos que parecem quistos de tamanho centimétrico, nas axilas. Para estes casos há desodorizantes sem álcool, sem alumínio e sem «parabenos» (compostos antibacterianos e antifúngicos), que se vendem em estabelecimentos farmacêuticos e afins, mas a preços mais elevados.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Os choupos (fêmea) que produzem «algodão», embora acusados do mal que não provocam, não são boas opções para arborizações do espaço urbano

O «algodão» dos choupos. Imagem obtida aqui.
Na zona da cidade onde moro (Braga), como em muitas outras localidades, até esta altura, e desde há semanas, o ar esteve repleto de «algodão», que se acumulava em todos os recantos de terraços, varandas e escadas, invadindo também o interior das casas e provocando em muitas pessoas uma impressão de desconforto.
Não há motivos para receios de maior, porque os pólens causadores de alergia provêm de outras plantas, sendo que, neste caso, nem sequer estamos em presença de pólen.
Plantação de choupos.
Desde há alguns anos, optou-se pelo plantio de choupos, em escala razoável, nas cidades ou na sua periferia imediata. A sua madeira é muito fácil de trabalhar, foi muito usada para a produção de fósforos e palitos e também é explorada para a produção de celulose. Há choupos de várias espécies, pertencentes ao género Populus (Populus alba, Populus nigra, Populos tremula, etc), algumas das quais hibridam facilmente entre si. Estas plantas, que são dioicas, porquanto os sexos se encontram separados em indivíduos diferentes, crescem rapidamente e as sementes, produzidas pelas plantas fêmea, logo que o fruto abre, em algumas das espécies, apresentam «penugem algodoada» para serem dispersas pelo vento. É o caso do híbrido Populus x canadensis. Ora, tendo nós uma tão grande variedade de espécies vegetais, com taxas de crescimento diversas, e portes e caracteristicas muito diferentes, em função da conveniente adaptação aos factores climáticos e aos solos das várias regiões do país, pelo menos para efeitos decorativos ou preenchimento de espaços urbanos, não há necessidade de recorrer a espécies susceptíveis de desencadear problemas de saúde, sequer de desconforto, em pessoas ou animais. Neste caso, até podia recorrer-se (apenas) à plantação de choupos masculinos e o problema ficava resolvido. Mas há muitas alternativas, as quais incluem carvalhos, medronheiros, rododendros, azevinhos, loureiros, sabugueiros, loendros ou ericas, entre árvores e arbustos, opções que também não faltam entre as espécies de jardim de pequeno tamanho, onde até as humildes couves podem fazer excelente figura.
Outros problemas há, e maiores, com as plantas em Portugal, quem sabe se resultando em parte da nossa tendência para não valorizar o que é nativo (mesmo que bom) preferindo o que venha (ou que diligentemente transportamos) de fora, e que, não raro, redunda em cópia fastidiosamente repetida, sem vantagem, ou invasão descontrolada, causadora de prejuízo. Foi assim com os eucaliptos (estes «economicisticamente» rentáveis) e as acácias (de fraco aproveitamento económico, pelo menos por enquanto) ou com os «penachos» (a Cortaderia selloana, de que não tiramos qualquer proveito).
Ressalve-se, porém, que o problema não está nos seres vivos (plantas ou animais) exóticos. O uso ou o modo como os humanos fazem a sua dispersão pelos espaços é que pode não ser adequado e conveniente, pelo que sofrem(os) as consequências.

José Batista d’Ascenção

domingo, 5 de maio de 2019

O teatro da política, as guerras do «pontapé na bola» e a balbúrdia «noticiosa» dos «média»

Os protagonistas da «crise». Imagem obtida aqui.
Depois de Mário Soares, o político mais hábil na área do partido socialista parece ser, indiscutivelmente, António Costa. Pensaria um cidadão que era realmente importante, para ele e para o governo que lidera, estar, nesta altura, muito atento a matérias como a prevenção de incêndios e aprovar antes do fim da legislatura as leis de bases da saúde e da habitação e as alterações às leis do trabalho.
O Presidente Marcelo, «apanhado de surpresa»
Afinal, correr para eleições antecipadas tornou-se prioritário. Apagar a campanha para as europeias e tomar a dianteira aos restantes partidos são os (seus) objectivos do momento. Aparentemente, os líderes dos partidos com assento parlamentar estão sem saber o que fazer e o líder do partido socialista julga-se um vencedor. Não sei avaliar se o é. Sei apenas que não gosto do que vejo e admito que haja votantes do partido socialista que, vendo do modo que eu vejo, e fartos destas políticas, em que a transparência é um mito e os interesses pessoais dos protagonistas são demasiado óbvios, ponderem não lhe conceder o voto em próximas eleições. O pretexto que António Costa usa deixa-me de pé atrás. Os mesmos políticos que não se ouviram sobre o custo dos crimes e dos prejuízos estratosféricos da banca, pagos sem tugir nem mugir, arrepelam os cabelos perante o reconhecimento do tempo de trabalho prestado pelos trabalhadores da função pública, apresentando contas díspares sobre o impacto nos orçamentos, quando o tratamento dessas matérias não tem que implicar despesas incomportáveis, consideradas as possibilidades orçamentais, os faseamentos a definir e as hipóteses de fazer acertos no acesso às aposentações. Devia ser inadmissível «apagar» tempo de serviço. O tempo de trabalho prestado não pode anular-se, como se anulam as dívidas dos poderosos, se deixam os seus impostos por cobrar e se perdoam os seus crimes. Pagar mais ou menos, melhor ou pior, pelo trabalho realizado é algo que não pode fugir às possibilidades reais da economia, e por isso tem necessariamente que compreender-se. Já elidir tempo de trabalho prestado não é eticamente possível, só o é com batota. O termo «congelar» não tem neste âmbito qualquer aplicação decente. Ponto.
Outro mundo de ética duvidosa respeita ao «pontapé na bola». De resto, há muitas afinidades entre futebol e política, a avaliar pelo enviesamento e parcialidade do argumentário, o qual, no caso da bola, infesta os canais televisivos e contribui para que os cidadãos se entrincheirem no ódio entre clubes onde valem interesses, negócios e maquinações, a que as leis (fiscais e criminais) parece não se aplicarem. Entre líderes e entre «claques» o clima relacional atinge, por vezes, um certo ar de «terrorismo», nas palavras e nos comportamentos. O mundo futebolístico sobrepõe-se aos problemas reais das pessoas humildes, às quais resta adoptar um dos clubes principais e tomar parte nas guerras que extravasam dos estádios, via televisões e redes sociais. Estas guerrilhas acontecem antes, durante e depois dos jogos, em todos os palcos comunicacionais, em que os preconceitos de cada um se misturam violentamente com os dos outros e produzem o mesmo efeito dos demais.
No meio de tudo e a acirrando todos, os média prendem as atenções e vendem a publicidade que alimenta o «circo». Quanta mais cegueira e «sangueira», mais audiências. Os políticos agradecem. Qual Ética? Qual Justiça? Qual Educação?
Aos males do mundo, acrescentamos os nossos, à nossa maneira.
Para onde vamos, não (o) sei.

José Batista d’Ascenção