Os protagonistas da «crise». Imagem obtida aqui. |
Depois de Mário Soares, o político mais hábil na área do partido socialista parece ser, indiscutivelmente, António Costa. Pensaria um cidadão que era realmente importante, para ele e para o governo que lidera, estar, nesta altura, muito atento a matérias como a prevenção de incêndios e aprovar antes do fim da legislatura as leis de bases da saúde e da habitação e as alterações às leis do trabalho.
O Presidente Marcelo, «apanhado de surpresa» |
Afinal, correr para eleições antecipadas tornou-se prioritário. Apagar a campanha para as europeias e tomar a dianteira aos restantes partidos são os (seus) objectivos do momento. Aparentemente, os líderes dos partidos com assento parlamentar estão sem saber o que fazer e o líder do partido socialista julga-se um vencedor. Não sei avaliar se o é. Sei apenas que não gosto do que vejo e admito que haja votantes do partido socialista que, vendo do modo que eu vejo, e fartos destas políticas, em que a transparência é um mito e os interesses pessoais dos protagonistas são demasiado óbvios, ponderem não lhe conceder o voto em próximas eleições. O pretexto que António Costa usa deixa-me de pé atrás. Os mesmos políticos que não se ouviram sobre o custo dos crimes e dos prejuízos estratosféricos da banca, pagos sem tugir nem mugir, arrepelam os cabelos perante o reconhecimento do tempo de trabalho prestado pelos trabalhadores da função pública, apresentando contas díspares sobre o impacto nos orçamentos, quando o tratamento dessas matérias não tem que implicar despesas incomportáveis, consideradas as possibilidades orçamentais, os faseamentos a definir e as hipóteses de fazer acertos no acesso às aposentações. Devia ser inadmissível «apagar» tempo de serviço. O tempo de trabalho prestado não pode anular-se, como se anulam as dívidas dos poderosos, se deixam os seus impostos por cobrar e se perdoam os seus crimes. Pagar mais ou menos, melhor ou pior, pelo trabalho realizado é algo que não pode fugir às possibilidades reais da economia, e por isso tem necessariamente que compreender-se. Já elidir tempo de trabalho prestado não é eticamente possível, só o é com batota. O termo «congelar» não tem neste âmbito qualquer aplicação decente. Ponto.
Outro mundo de ética duvidosa respeita ao «pontapé na bola». De resto, há muitas afinidades entre futebol e política, a avaliar pelo enviesamento e parcialidade do argumentário, o qual, no caso da bola, infesta os canais televisivos e contribui para que os cidadãos se entrincheirem no ódio entre clubes onde valem interesses, negócios e maquinações, a que as leis (fiscais e criminais) parece não se aplicarem. Entre líderes e entre «claques» o clima relacional atinge, por vezes, um certo ar de «terrorismo», nas palavras e nos comportamentos. O mundo futebolístico sobrepõe-se aos problemas reais das pessoas humildes, às quais resta adoptar um dos clubes principais e tomar parte nas guerras que extravasam dos estádios, via televisões e redes sociais. Estas guerrilhas acontecem antes, durante e depois dos jogos, em todos os palcos comunicacionais, em que os preconceitos de cada um se misturam violentamente com os dos outros e produzem o mesmo efeito dos demais.
No meio de tudo e a acirrando todos, os média prendem as atenções e vendem a publicidade que alimenta o «circo». Quanta mais cegueira e «sangueira», mais audiências. Os políticos agradecem. Qual Ética? Qual Justiça? Qual Educação?
Aos males do mundo, acrescentamos os nossos, à nossa maneira.
Para onde vamos, não (o) sei.
José Batista d’Ascenção
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