Exemplar de «Amanita muscaria», um fungo alucinogénio. Estabelece micorrizas com pinheiros, abetos e outras árvores. |
Os fungos são um curioso (e enorme e diversificado) grupo de seres vivos. Não são plantas (não produzem matéria orgânica – alimento – por exposição à luz), nem são animais. Também não pertencem ao mundo («reino») dos protozoários: seres uni ou pluricelulares, mas, neste caso, com as células pouco diferenciadas umas das outras, nem ao «reino» das bactérias: seres unicelulares ou coloniais (agregados celulares, com morfologias diversas), cujas células não possuem núcleo nem organitos membranares (células procarióticas), apresentando uma estrutura mais simples do que as células nucleadas e providas de organitos com membranas (células eucarióticas) de todos os outros seres vivos: protozoários, fungos, plantas e animais.
Uni ou multicelulares, todos os fungos se alimentam de matéria orgânica que não produzem. Alguns são parasitas, como os que se instalam na nossa pele, provocando «micoses» ou atacam as plantas, como o oídio das videiras. Outros consomem matéria orgânica morta (dizem-se «saprófitas») aproveitando-lhe a energia e reduzindo-a a matéria mineral. Ou seja: são decompositores. Se não houvesse decompositores (entre fungos e algumas bactérias), os cadáveres dos animais e das plantas e os seus detritos ou partes destacadas (revestimentos de animais, ramos partidos, folhas, etc.) permaneceriam indefinidamente na Natureza. Então, as florestas «afogavam-se» na folhagem que delas se desprende todos os anos e os corpos dos animais (e pessoas) sem vida cobririam a Terra. Devido à acção de bactérias e dos fungos saprófitas, os restos orgânicos são mineralizados, após a putrefacção, e a matéria inorgânica (água, dióxido de carbono e sais minerais) é devolvida ao meio de onde pode ser novamente absorvida pelas plantas verdes, que, com ela, fabricam alimento para si próprias e para (todos) os animais, que o obtêm directa ou indirectamente. Por isso dizemos que as plantas verdes são seres autotróficos. Já os animais, como os fungos e todos os seres que não fabricam a matéria orgânica de que se alimentam, chamam-se seres heterotróficos.
Mas o papel dos fungos é mais vasto. Alguns produzem antibióticos com o que impedem o desenvolvimento de bactérias, suas competidoras. Em 1928, o médico e cientista escocês Alexander Fleming descobriu a penicilina, substância produzida pelo fungo Penicillium notatum. Por alturas da segunda guerra mundial iniciava-se a «era dos antibióticos», que passaram a ser largamente usados, com progressos notáveis na saúde, até ao excesso de utilização, com preocupante perda de eficácia, verificada a partir dos finais do século XX. Outros fungos filamentosos, que também incluem o bolor do pão ou o dos frutos dos citrinos, proliferam na folhagem em decomposição no chão das florestas (manta-morta) e por entre as partículas do solo, onde crescem as raízes das plantas. Muitos destes fungos estendem-se por dezenas e dezenas de metros e «infectam» as raízes, associando-se com elas: das plantas recebem matéria orgânica e, em compensação, absorvem sais minerais e água que disponibilizam às plantas. A tais associações mutuamente benéficas, chama-se «micorrizas». Na produção artificial de plantas, as raízes são muitas vezes contaminadas com fungos para promover o estabelecimento de micorrizas, como garante de crescimento eficaz, sem o que haveria definhamento e morte.
Os cogumelos, comestíveis e não comestíveis, são estruturas de fungos filamentosos que crescem sobre o solo e destinam-se à reprodução e disseminação desses fungos. A apanha intensiva de cogumelos, muito procurados pelas suas qualidades culinárias, pode comprometer a sobrevivência dos fungos e a produtividade natural de cogumelos, o mesmo podendo acontecer com plantas de cultivo e árvores florestais.
A produção artificial de cogumelos requer «apenas» matéria orgânica em decomposição e pode fazer-se no escuro, em espaços fechados, por exemplo em «gavetas», com condições de humidade e temperatura controladas.
Alguns cogumelos produzem substâncias venenosas ou alucinogénias para protecção contra os predadores, incluindo o ser humano. Outros «imitam» a forma e a cor dos que são venenosos para o mesmo efeito. Donde, são precisos conhecimentos e precaução na apanha de cogumelos. Conveniente é também o conhecimento mínimo do seu papel e importância na Natureza.
José Batista d’Ascenção
E onde é que se aprende tanta coisa?
ResponderEliminarMeu amigo: tive bons professores e com eles aprendi algumas coisitas, nas aulas e nos livros que escreveram, mas nada comparado com o que eles me ensinaram... Nem dá para imaginar. Depois dá-me para escrevinhar, e quando tenho dúvidas sobre como o fazer, pergunto ao Bastos e a ti próprio, ou ouço-vos nas vossas críticas ao quanto mal se vai falando e escrevendo por aí, e, então, sinto-me mais encorajado. Por isso prezo tanto as nossas conversas, em que tenho muito mais que ouvir do que dizer. Amanhã já, reincidiremos, com muito gosto da minha parte. Obrigado. Abraço.
Eliminar... muito mais que ouvir do que a dizer..., devia eu ter escrito.
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