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Na “luta pela vida”, os organismos têm que obter alimento, defender-se de predadores, parasitas e competidores, e assegurar a reprodução que perpetua cada espécie. O mutualismo faz também parte das relações entre os seres vivos, mas é apenas, e só em certos casos, uma das interacções possíveis.
Os seres humanos são uma espécie biológica sujeita, como as demais, às leis da natureza. Como há uma infinidade de micróbios (vírus, bactérias, protozoários, fungos…) e mesmo de animais (piolhos, carraças, ténias…) que aproveitam todas as oportunidades para se instalar no nosso corpo, é preciso que tenhamos meios de defesa, quer conscientes e voluntários, como os hábitos de higiene (corporal, alimentar e social), quer intrínsecos e internos, como o (chamado) sistema imunitário.
O sistema imunitário é composto por células sanguíneas (os glóbulos brancos ou leucócitos, de muitos tipos), que viajam pelo sistema circulatório (sanguíneo e linfático) e se demoram mais ou menos tempo nos gânglios, vigiando todas as partes do corpo e detectando e destruindo microrganismos invasores ou neutralizando as suas toxinas. Para isso, há células que fazem previamente o reconhecimento do que é estranho ao próprio organismo. Segue-se o ataque, que é feito directamente por alguns leucócitos, “engolindo” (por fagocitose) os intrusos, ou ocorre mediante a acção de anticorpos, moléculas proteicas desenhadas especificamente para neutralizarem “partículas” estranhas, que tanto podem fazer parte da superfície dos micróbios invasores como ser as toxinas por eles produzidas. A estas partículas chama-se antigénios. Os anticorpos são produzidos contra alvos específicos, por leucócitos especializados, depois do primeiro contacto com cada antigénio, de que é guardada uma memória. Por vezes, o sistema imunitário é tão zeloso que luta contra o que nem nos faria qualquer mal, como alguns pólens, casos em que sofremos de alergias. Em certas disfunções, o sistema imunitário “considera” como estranhos componentes do próprio organismo, passando a atacá-los persistentemente, o que dá origem a doenças auto-imunes.
As vacinas são um acto sanitário que consiste (em termos muito básicos) em inocular no organismo uma quantidade de antigénio em condições em que não desenvolva doença (micróbios mortos ou atenuados ou algumas porções deles, cobertura de vírus, toxinas inactivadas…), de forma a que o sistema imunitário faça o devido reconhecimento, produza alguns anticorpos e guarde memória do(s) antigénio(s). Num contacto posterior do antigénio com o sistema imunitário, este reage de pronto, podendo produzir, em poucas horas, quantidades enormes de anticorpos, o que previne a doença. A descoberta das vacinas ocorreu quando um médico inglês, Edward Jenner (1749-1823), verificou que as vacas, por vezes, apresentavam nas tetas pústulas iguais às das pessoas que sofriam de varíola, mas tinham sintomas mais leves. Verificou também que as mulheres que ordenhavam as vacas contraíam formas suaves da doença. Teve então a intuição de recolher pus das feridas de uma leiteira e inocular um rapazinho de oito anos com esse material (o que hoje não seria admissível; o menino não era filho dele…). A criança manifestou sintomas ligeiros e recuperou rapidamente. Submetido a nova inoculação, agora com material colhido de uma pessoa com varíola, o rapaz não desenvolveu a doença. Estava imunizado. Era a descoberta das vacinas. Vacina (do latim, vaccinu) é uma palavra que deriva da palavra vaca (do latim, vacca).
Conhecido o efeito das vacinas, a saúde humana beneficiou de larga melhoria. Doenças houve que foram erradicadas, por exemplo a varíola, enfermidade causada por um vírus, cujo último caso foi diagnosticado em 1977.
Acontece que muitas pessoas, por ignorarem as lições da História e desconhecerem o valor intrínseco da ciência, contestam o saber disponível que tanto custou a alcançar e lançam-se em campanhas contra a evidência de extraordinários benefícios que a humanidade conseguiu. É o caso dos contestatários das vacinas.
Sirva o atual momento das condições de saúde em Portugal e no mundo, e até o mau exemplo dos que ilegitimamente se fazem vacinar antes de outros em condições de prioridade, para rechaçar as ideias insanas dos que contestam a importância da vacinação.
José Batista d’Ascenção
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