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Tenho lido vários escritos sobre os males terríveis que aguardam crianças e jovens na sequência das limitações ao convívio e à socialização por que passam(mos) há (quase) um ano. Não me identifico com o pessimismo desses textos nem creio no rigor das previsões que anunciam. Admito até que correspondam mais ao estado de espírito (de alguns) dos seus autores, eles próprios afectados pela situação que vivemos, a que ninguém escapa, das crianças pequenas aos mais idosos.
Já bastam as dificuldades que enfrentamos. Não indo mais atrás, penso na geração dos meus pais e tios, por exemplo, e nos terrores que viveram com a guerra colonial, que deixou marcas profundas, claro, mas que eles suportaram (tantas vezes no silêncio da dor inexprimível); penso na minha geração e na quantidade de emigrantes que partiram deixando as crianças entregues à mãe, ou aos avós ou a familiares, o que perturbou o crescimento de muitas, mas não foi dramático na maior parte dos casos; penso ainda na vaga enorme de “retornados” que, em 1974-75, trouxe meio milhão de portugueses das ex-colónias, com pouco mais do que a roupa do corpo, e eles integraram-se no corpo da sociedade, que se renovou sem sobressaltos catastróficos, não obstante o sofrimento de muitos. São exemplos.
Em contraponto, lembro-me do optimismo das teorias pedagógicas, em cujo estudo me apliquei na minha formação para a docência, já lá vão várias décadas, e na frustração (surda ou nem tanto) da sua aplicação à realidade, que nos conduziu à escola doente dos tempos presentes. O investimento foi fruste, porque o conhecimento e a visão do futuro não eram sólidos e estavam enviesados. Ironicamente, a pandemia está a valorizar o papel da escola. Senão para aprender, pelo menos para socializar e para os professores tomarem conta dos alunos. Fosse esta uma janela de esperança.
Hoje como então, há muitos que pensam que sabem, mas que sabem pouco, tanto mais que ignorantes são todos os que ignorantes parecem mais a (quase) totalidade dos que não causam essa impressão, face à infinita diversidade do que se sabe e do que se desconhece.
Suponho que seja mais ou menos isto: temos medo; há muito “nevoeiro”; não sabemos o caminho; e, pior, não temos preparado bem grande parte das crianças.
Assim mesmo, com humildade, seriedade, serenidade, estudo e trabalho, mas também com a alegria possível, resolveremos, tanto quanto pudermos, a fome, a saúde e o prazer de viver a que todos têm/temos direito.
O que não será pouco. E é dever de cada um.
José Batista d’Ascenção
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