Sem economia robusta e sempre dependente (e à espera) da transferência de fundos financeiros de entidades estrangeiras, a pandemia vírica (não completamente imprevisível) acentuou os apuros “intemporais” para que Portugal parece fadado.
Não causa espanto que os cidadãos portugueses vivam à espreita de oportunidades milagrosas: os poderosos de colherem os caudais que os governantes vão encaminhando na sua direcção e os pequeninos gastando o que (não) têm nas bancas de raspadinhas e afins.
Um sistema escolar que prepare efectivamente crianças e jovens não é para nós. Os países produtivos valorizam a inteligência, o trabalho rigoroso e a execução do que é necessário. Em (des)compensação, Portugal é um país de espertos, de lampeiros, de milagreiros e de especialistas em (política de) eventos fúteis. Se não são a maioria, predominam, pelo menos na acção prática.
Desportos como o futebol de alta competição são uma guerra de negócios múltiplos, nada transparentes e, eventualmente, pouco limpos, acima ou além das leis. As vitórias desejam-se de qualquer jeito e as batotas são acérrima e descaradamente defendidas por aqueles a quem interessam. Também servem o povoléu, como consolo (pobre) para as frustrações da vida. E fazem as crianças aspirar à grandeza das estrelas protagonistas.
Trabalhar serena, discreta e persistentemente para realizar objectivos úteis a cada um e à comunidade? Isso dificilmente entra nas nossas cabeças e não é exemplo que queiramos dar.
Quando o “nosso” clube ganha, engrossamos a multidão exultante que festeja, esquecendo as regras mínimas de protecção da saúde de todos. Devíamos aprender, mas custa… No entanto, não faltaram os que, apontando o dedo, se afirmaram virtuosos: com eles não acontecia.
Entretanto, os dados favoráveis da pandemia, após muitos sacrifícios, haviam permitido o tão almejado regresso de turistas, particularmente ingleses.
Mas houve a final do campeonato europeu de clubes. E logo Portugal se apressou a oferecer o palco, com o fito em supostos ganhos e ignorando os riscos. Pretensão satisfeita. Porém, o comportamento dos hooligans foi o (miseravelmente) previsível. Sobrevêm as consequências. Curiosamente, quem tinha criticado Lisboa pela festa desregrada, pronunciou-se, não por restrições preventivas, mas pela “igualdade” de direitos dos adeptos portugueses. Qual precaução? Os eventos irracionalmente emotivos devem ser contidos, mas a ganância fala mais alto. Aqueles ingleses, os indesejáveis e os outros, trouxeram 50 milhões de euros, disse o presidente da Câmara Municipal do Porto. São muitos milhões. As contaminações podem aumentar? É possível, mas aquela maquia já cá canta, pensarão os interessados.
Por seu lado, e na sequência (das imagens e do desleixo que significam?), o governo inglês decidiu limitar o turismo para Portugal. Quantos milhões vai perder o Algarve? Esta pergunta deve ser irrelevante para o presidente da Câmara do Porto.
Tristemente, tendo a ver os portugueses, populares e governantes, como uma espécie de súbditos subservientes dos turistas ingleses. Vamos esperar e aguentar.
Explicações? Não se encontram. Pelo menos é o que diz cinicamente o ministro dos negócios estrangeiros de Portugal. O da educação opta pelo silêncio.
José Batista d’Ascenção