Calhando a passar, em cima dos traços horários das oito, debitados na rádio, frente à assembleia de voto da freguesia onde moro, foi com muito gosto que logo fui cumprir o meu dever cívico. Estava tudo a postos, fui dos primeiros e despachei-me num rápido.
Custou muito a muitos a conquista da liberdade e, com ela, a oportunidade de votar. Isto, em si, é um bem sem preço.
Mas a nossa democracia funciona bem? Eu penso que não. E de quem é a culpa/responsabilidade? Em minha opinião é nossa, dos cidadãos, que, demasiadas vezes, somos pobres em matéria de cidadania. Chegados aqui, o que devia funcionar melhor, para a cidadania ser mais efectiva?
Penso que, em primeiro lugar, é a resolução da pobreza. A pobreza impede a liberdade e a cidadania plena. Depois, entre vários factores, há o papel sofrível da escola. Em meu entender, a escola perde-se no seu papel promotor da qualidade e da elevação social quando não prepara bem os alunos. E não tem preparado bem grande parte deles, sobretudo os filhos dos (mais) pobres.
Quando às opções de voto, custa-me que a propaganda vá ao ponto de prometer o que não compreendo, como a «instalação de um espaço de diversão e treino para animais de estimação (cães)» ou a mudança de piso de uma praça em que passo todos os dias e que não me parece que careça de tal mudança…
A dívida do país é grande, os recursos são escassos (mesmo que nos acenem com milhões a haver…) e deviam ser aplicados com critério e parcimónia.
Parece-me, aliás, que se devia valorizar, entre nós, a possibilidade de os presidentes de junta de freguesia desempenharem a função «pro bono», especialmente naquelas em que o número de habitantes é bastante reduzido. Havendo muitas pessoas reformadas com boa formação e em boas condições de saúde, talvez a sua generosidade pudesse fazer bem às contas públicas e pusesse tino nos gastos e ponderação em certas obras (como as tradicionais rotundas) e em muitas acções, como passeios gratuitos injustificados.
Em qualquer circunstância, não prescindo de votar, e ponho a cruz nas possibilidades que me parecem melhores. Ou menos más.
Sempre com o gosto especial da liberdade.
José Batista d’Ascenção