Habituamo-nos facilmente às modificações subtis que o espelho nos mostra fielmente todos os dias, mas em que, de ordinário, não reparamos (nem, talvez, queiramos reparar…). Quando nos encontramos com alguém que (já) não víamos há algum tempo – às vezes anos – frequentemente soltamos um «estás cada vez mais nova(o)» ou «o tempo não passa por ti», esperando porventura um cumprimento equivalente da pessoa com quem deparámos.
Creio que todos duvidamos da autenticidade do que pronunciamos e ouvimos nestas circunstâncias, mas seria uma falta de simpatia confrangedora não procedermos naqueles termos. Há «mentiras» necessárias, que confortam e não prejudicam.
Nada nem ninguém pode parar a seta do tempo. E em tudo e em todos ficam as marcas da sua passagem. É assim.
E, contudo, há pessoas a quem o devir acrescenta serenidade e bonomia, muito apaziguadoras de si e dos que as rodeiam ou com quem se cruzam. Mesmo em senhoras, que bem que ficam, por vezes, os cabelos brancos: as minhas colegas e amigas I. Mendes e H. Lobo são disso exemplo. A alvura crescente dos seus penteados assenta-lhes plácida e harmoniosamente. Ficam simples e bonitas. Eu gosto. Nos homens também pode ser assim, embora a careca, a meus olhos, não beneficie nenhum.
Que a velhice, tirando a maravilha dos netos, não traz nada de especialmente agradável. Se vejo mal, velhos ou novos que me apontem onde e em quê.
Mas a sabedoria e a bondade só alcançam verdadeira maturidade em que viveu muito. E não apenas por isso, a velhice é encarecidamente merecedora de respeito e veneração.
José Batista d’Ascenção