Vivo emotivamente esta data, desde que ocorreu, era eu adolescente. Fiz-me adulto com os seus valores e ideais, num país libertado, e morrerei com eles no peito. Não conheço, em parte alguma, em qualquer tempo, revolução tão bonita e generosa, em que os seus protagonistas não derramaram sangue e colocaram no cano das espingardas (de um tipo chamado G3, que eu ainda tive na mão, lá por Mafra, dez anos mais tarde) cravos vermelhos – os cravos do 25 de Abril. E desde então, os cravos, que eu bem conhecia dos jardinzinhos das casas humildes dos meus pais e dos meus avós, de cor vermelha, passaram a ter, para mim, um significado como mais nenhumas flores têm. Vejo-lhes a cor e logo lhes associo o perfume. E, se lhes recordo o aroma, logo o relaciono com o vermelho vivo e apaixonante da revolução havida e muito querida.
Os que detestam o 25 de Abril têm, pelo menos, a liberdade de o expressar. E com que gosto o fazem!, ou assim parece. Gosto e apreço que os ditadores e os seus admiradores não têm pela liberdade dos outros, característica que me repugna.
Foi feito por homens, o 25 de Abril. E nenhum dos homens que o fizeram era perfeito. Antes assim. Não tinham eles preparação política e remédio social para as chagas do país? É normal que não tivessem. O que (me) importa era nobre e honesta e firme vontade de Salgueiro Maia e dos outros. E não ignoro a profundidade de pensamento de um esquecido Ernesto Melo Antunes. O que tinham era, repita-se, a vontade de pôr termo a um regime ditatorial medularmente injusto, violento e corrupto e velho de décadas. E puseram, corajosamente. O resto era uma oportunidade para nós, cidadãos, construirmos um país digno e livre.
Conseguimo-lo? Penso que não. Livre, formalmente, é. Digno, não. Basta pensar no (a meu ver) péssimo funcionamento da justiça. E na falência de uma área que muito me toca – a «educação». É dos responsáveis que nos devemos queixar. E exigir deles (e de nós) que respondam(os).
O 25 de Abril continua por cumprir. A «chama» vermelha dos cravos continua a interpelar-nos. Assim o penso e assim o digo à juventude.
O futuro depende de como o prepara(r)mos.
José Batista d’Ascenção