Dia Mundial da Criança, Amadora 1974, Fotografia de Alfredo Cunha |
«Não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como nós somos». Esta afirmação (ou equivalente) é atribuída a Anaïs Nin, escritora norte-americana, nascida em França. Não sendo (seguidor) de máximas, a clarividência daquele pensamento ficou-me, desde que o vi escrito.
Restringindo-me ao nosso país, causa-me funda (e negativa) impressão a opinião (de tantos) que atribui os males da sociedade actual à extraordinária e bela oportunidade que foi a revolução do 25 de Abril. O país que fomos e o país que somos não têm comparação. De que podem ter saudades as pessoas, particularmente as mais pobres, que têm a minha ou mais idade: de passarem fome?, de andarem descalças?, de trazerem a cabeça inçada de piolhos?, de não terem (qualquer) assistência médica?, de não terem água canalizada, nem esgotos, nem casa de banho?, de casebres de telha vã, com um espaço único onde todos se amontoavam?, de as mulheres serem “propriedade” dos maridos?, de as enfermeiras e as professoras precisarem de autorização para se poderem casar?, de não saberem ler nem escrever?, de os jovens rapazes terem de ir para a guerra na Índia ou em África?, de a polícia política (PIDE) prender por “delito de pensamento”? Etc.
Porque não estamos melhor do que estamos no tempo presente?
As razões são múltiplas, mas, para mim, isso deve-se, em grande medida, ao falhanço do que chamamos «sistema de educação». Há quem gabe o muito que (já) se conseguiu, por comparação com o que então se verificava (mal era…). Esta visão interessa muito aos que são responsáveis pelo dito sistema e vivem à custa dele. Não me interessa a mim, que ando há quarenta anos pelas escolas, a leccionar ininterruptamente. Sobretudo, não interessa aos filhos dos (mais) pobres, que frequentam a escola (e muito bem), mas saem dela pessimamente preparados. Nem interessa, sequer, àquela percentagem de alunos cujas famílias têm boa condição sócio-económica e conseguem suprir as falhas escolares, porque, por um lado, podiam e deviam ser ainda mais bem preparados e porque, por outro lado, terão de fugir para o estrangeiro para conseguirem trabalhos bem remunerados. Também não interessa aos professores (que dão aulas) que vivem e trabalham numa realidade que é muito diferente daquilo que os teóricos dizem, porque lhes convém.
Ora, isto não tem de ser assim. O 25 de Abril fez-se para proporcionar mais e muito melhor. Cumpri-lo é o nosso dever.
José Batista d’Ascenção
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