domingo, 24 de novembro de 2024

Biografia do «príncipe dos poetas portugueses»

«Fortuna, Caso, Tempo e Sorte», Biografia de Luís Vaz de Camões, de Isabel Rio Novo. Um livro portentoso, comovente e muito bem escrito. O nosso Poeta maior merecia uma obra assim, quinhentos anos depois (digo-o eu, que poucos livros li sobre ele).

De Camões ressalta, como é óbvio, o ser humano, nas suas múltiplas características: o modo de ser e de viver, um carácter forte e digno, um grande humanismo, uma cultura profunda e um conhecimento vasto, pelo estudo e pela sua extraordinária experiência de vida: contacto com pessoas de todas as extracções sociais, participação na guerra, viagens marítimas, contacto com diferentes povos e culturas... Tudo isto servido por uma memória prodigiosa e um incomparável génio poético. São igualmente cristalinas as suas humanas fragilidades, como a atracção irresistível pelo belo sexo - feminino, esclareça-se - e a pouca habilidade para gerir os seus parcos recursos materiais.

Para apreender profundamente este livro no que respeita a viagens marítimas no século XVI, há um outro livro, sobre as viagens da «carreira da Índia», que muito o facilita: «Entre o Céu e o Inferno», de Marco Oliveira Borges, que referi aqui.

Uma extraordinária biografia de Camões que se estende por setecentas páginas fáceis de ler e que valem muito a pena.

Quem duvidar que tire a prova.

José Batista d’Ascenção

sábado, 16 de novembro de 2024

Um simpático cogumelo da minha infância

Macrolepiota procera. Vários nomes vulgares, em diferentes regiões do país: frades, gasalhos, roques, centieiros, "tartulhos", "crecemêlos", etc.

Assados, com duas pedrinhas de sal, são muito saborosos. Dizem que salteados também. Esta manhã encontrei três, no meu percurso habitual das manhãs de Sábado. Com o chapéu bem aberto, suponho que os esporos já se libertaram, na maior parte, pelo que não faz mal colhê-los, dado que a sua função está cumprida. A partir de agora, serviriam apenas de alimento a uma data de bichinhos. De tal destino posso eu tratar, em colaboração com a Lurdes. Vou experimentar cozinhá-los eu mesmo. A minha falta de jeito na cozinha é conhecida de todos os que me conhecem, pelo que estão dispensados (esses e outros) de perguntar como é que me saí.

Bom fim-de-semana.

José Batista d'Ascenção

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Tempos de trump

Nunca foi, não é, nem será perfeito, o ser humano. Por isso, em todos os tempos, em todos os lugares, muitos se preocuparam em definir princípios e regras que pudessem harmonizar a vida em comum.

Em termos sociopolíticos, a instituição da democracia moderna, em que mulheres e homens têm os mesmos direitos, constitui, de todos, o sistema político mais avançado, permitindo a realização dos seres humanos em clima de liberdade e de responsabilidade, que implica respeito de todos por cada um e de cada um por si e pelos restantes. O maior desenvolvimento intelectual e económico atingiu-se em regimes democráticos, com sistemas de justiça isentos e independentes do poder político.

Porém, a marcha da humanidade é imprevisível, o que significa que o bem afectivo, social e material alcançado não se pode dar por garantido se não se zelar quotidianamente por ele. Assim também para as democracias dignas do nome.

Por outro lado, os sistemas políticos ditatoriais ou autocráticos foram sempre maioritários no mundo. E os seus líderes não olham a meios para se manterem no poder, neutralizando (tantas vezes por eliminação) os seus opositores. As novas tecnologias e as redes sociais depressa foram apropriadas por esses chefes para veicularem propaganda e conteúdos falsos, boicotando as democracias, denegrindo-as e tentando conduzi-las ao caos. Tudo por poder, mais poder e dinheiro.

Tal tem sido a evolução que as distinções clássicas de ideologia se tornaram irrelevantes para quaisquer ditadores ou aspirantes à condição. Putin, Maduro, Bolsonaro, Trump, Lukashenko, Kim Jong-un , Xi Jinping, Mnangagwa, trabalham conjugados para atingirem fins idênticos: poder e dinheiro. Os donos das redes comunicacionais também, e dão-se bem com ou associam-se aos autocratas; quanto a nós, somos instrumentos deles.

Temos assim as democracias cada vez mais fracas e periclitantes. Os EUA deslizaram para o "trumpismo". A Alemanha talvez tombe para a ultradireita em eleições próximas. Isto nem Anne Applebaum previu no seu livro «Os ditadores que querem governar o mundo», publicado entre nós há escassos dois meses.

Parece demasiado mau para ser verdade. Seria bom que ficasse apenas pelo parecer, mas isso só acontecerá se os que amam a liberdade e a democracia não permitirem que se abdique delas.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Uf! – gostaria de dizer amanhã

Se pudesse pediria desculpa a Kamala Harris. A perspectiva de uma vitória tangencial sua não me exalta nem me sossega, preocupa-me, por isso mesmo. O menos mau é que essa vitória evitaria, ainda que por margem mínima, a eleição de um presidente americano, a meu ver, monstruosamente indesejável. Fico perplexo não pela maldade, crueza, indecência e falta de escrúpulos de alguém muito poderoso, mas pelo elevadíssimo número dos que voluntaria e cegamente o apoiam.

Onde falha(ra)m o esmeril da educação e a racionalidade da instrução e do conhecimento? Como estamos a forma(ta)r os seres humanos? Elevamo-nos ou regressamos às cavernas, com a ajuda ou por acção (deliberada) de extraordinários meios tecnológicos de comunicação e alienação?

Não sei de qualidades fora do comum em Kamala Harris (talvez por deficiente conhecimento meu…) que a tornem particularmente indicada para a presidência dos EUA. Basta-me, contudo, que seja, como parece, uma pessoa normal, bem formada e bem preparada. Ademais, experiência não lhe falta. E gosto, gosto muito, do seu sorriso aberto e franco.

Desejo profundamente que ganhe. E que não lhe faltem coragem e lucidez.

O mundo precisa.

José Batista d’Ascenção