Nunca foi, não é, nem será perfeito, o ser humano. Por isso, em todos os tempos, em todos os lugares, muitos se preocuparam em definir princípios e regras que pudessem harmonizar a vida em comum.
Em termos sociopolíticos, a instituição da democracia moderna, em que mulheres e homens têm os mesmos direitos, constitui, de todos, o sistema político mais avançado, permitindo a realização dos seres humanos em clima de liberdade e de responsabilidade, que implica respeito de todos por cada um e de cada um por si e pelos restantes. O maior desenvolvimento intelectual e económico atingiu-se em regimes democráticos, com sistemas de justiça isentos e independentes do poder político.
Porém, a marcha da humanidade é imprevisível, o que significa que o bem afectivo, social e material alcançado não se pode dar por garantido se não se zelar quotidianamente por ele. Assim também para as democracias dignas do nome.
Por outro lado, os sistemas políticos ditatoriais ou autocráticos foram sempre maioritários no mundo. E os seus líderes não olham a meios para se manterem no poder, neutralizando (tantas vezes por eliminação) os seus opositores. As novas tecnologias e as redes sociais depressa foram apropriadas por esses chefes para veicularem propaganda e conteúdos falsos, boicotando as democracias, denegrindo-as e tentando conduzi-las ao caos. Tudo por poder, mais poder e dinheiro.
Tal tem sido a evolução que as distinções clássicas de ideologia se tornaram irrelevantes para quaisquer ditadores ou aspirantes à condição. Putin, Maduro, Bolsonaro, Trump, Lukashenko, Kim Jong-un , Xi Jinping, Mnangagwa, trabalham conjugados para atingirem fins idênticos: poder e dinheiro. Os donos das redes comunicacionais também, e dão-se bem com ou associam-se aos autocratas; quanto a nós, somos instrumentos deles.
Temos assim as democracias cada vez mais fracas e periclitantes. Os EUA deslizaram para o "trumpismo". A Alemanha talvez tombe para a ultradireita em eleições próximas. Isto nem Anne Applebaum previu no seu livro «Os ditadores que querem governar o mundo», publicado entre nós há escassos dois meses.
Parece demasiado mau para ser verdade. Seria bom que ficasse apenas pelo parecer, mas isso só acontecerá se os que amam a liberdade e a democracia não permitirem que se abdique delas.
José Batista d’Ascenção
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