Desde muito jovem, a seguir ao 25 de Abril, ao longo de décadas, admirei a qualidade de um número razoável de deputados do parlamento nacional. Nomes como os de Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral, Almeida Santos, Magalhães Mota, Sousa Franco, Natália Correia, Lucas Pires, Vital Moreira, Vasco da Gama Fernandes, Adriano Moreira, Helena Roseta, Manuel Alegre, João Amaral, Amaro da Costa, João Salgueiro, Jorge Sampaio, António Guterres, Marcelo Rebelo de Sousa, António Barreto, Pacheco Pereira, Mota Amaral, Oliveira Martins, Medeiros Ferreira e muitos outros deixaram em mim memórias francamente favoráveis.
Discursos com substância e ideias e beleza literária como os de Lucas Pires ou de Almeida Santos ou a poesia de Natália Correia eram peças de oratória de grande qualidade, que muito apreciava. E não eram incomuns nem solitárias. Ouvia-os e pensava que a palavras tão pertinentes e belas só podia corresponder o bem e a elevação moral e cívica, capazes de melhorar todas as condições do nosso pobre país, incluindo as da educação que haviam de fazer prosperar a economia.
E suportava facilmente as críticas de próximos e distantes que me acusavam de não optar por um campo partidário, execrando a eito os que não lhe pertencessem nem gravitassem por perto. Nos tempos do liceu, relativamente a colegas e professores, também vivi situação idêntica: apreciava todos aqueles que me pareciam dotados das qualidades mais diversas.
Por oposição, havia um rol de representantes parlamentares que sempre me pareceu que não mereciam o subido privilégio e a dignidade de serem deputados. E sabia que alguns só o eram e só tinham aceitado candidatar-se pela posição e pelos proventos. Justa ou injustamente, pareceu-me, ao longo destes cinquenta anos, que esta fracção de deputados se foi alargando. Na actualidade, a «casa da democracia» está muito mal frequentada e não honra o título. É o que sinto.
Ora, neste aspecto, não compreendo a posição daqueles que sempre se opuseram à redução do número de deputados. Seguramente com bons motivos ou, pelo menos, boas intenções, pois que homens como os Professores Jorge Miranda e Vital Moreira, se não erro, também são dessa opinião.
Mas, pergunto eu: que fazem no parlamento elementos que não intervêm de moto próprio e votam de acordo com as ordens que recebem?
E pergunto também: a «ciência política» e a matemática não estão em condições de, por conjugação adequada, proporcionar representatividade e proporcionalidade à diversidade ideológica do especto partidário com um número mais reduzido de representantes do povo? Se aqueles que enobrecem a função nunca foram além de escassas dúzias em cada legislatura, que fazem lá os restantes?
Um número entre 120 e 150 não seria já (mais do que) suficiente?
José Batista d’Ascenção