sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Música do Céu

Acabou de acontecer. Em Braga, no Teatro Circo. Carlos Paredes por Mário Laginha aos comandos de um quarteto jazzístico, com Julian Argüelle no saxofone, Romeu Tristão no contra-baixo e João Pereira na bateria. Música para os ouvidos e o coração de todos.

Que este tenha sido um concerto seminal. Bem podem os meus amigos acorrer à sua repetição por muitos lugares onde desejavelmente vai ocorrer. E a televisão, a televisão pública, que tantas pepineiras espalhafatosas nos impinge (não a mim, devido ao efeito de repulsão), devia gravar na íntegra e passar em horário nobre. Ganhava o público, homenageava-se condignamente a singularidade pessoal e musical de Paredes, e divulgava-se o génio criativo de Laginha e o talento dos músicos seus acompanhantes.

Não é pedir muito, juro. 

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

O papa que vamos perder

Gostei de tudo em Francisco desde que foi eleito. É um Homem Bom na Cadeira de Pedro. Face ao desconserto do mundo foi lúcido e corajoso, inspirado e inspirador. A encíclica «Laudato Si» é o melhor e mais completo e mais belo e mais generoso livro de ecologia que me foi dado ler. «Ecologia» num sentido muito pessoal que dou ao conceito, com os seres humanos, especialmente os mais frágeis, no lugar que lhes devia competir, no seio das sociedades e da Natureza.

Parece-me que, idealmente, todas as religiões deviam ser isso. E as culturas também. Que é idealismo da minha parte, bem o sei e sinto.

Desejo imensamente que recupere. Digo-o com todo o pesar de quem já lhe sente a falta.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

António José Seguro – um político diferente?

Nunca acolhi como qualidades o malabarismo de ideias e de procedimentos da maioria dos políticos. Na minha bitola a verticalidade e a clareza são determinantes. Em consequência, não é muito extensa a lista de políticos (nacionais e estrangeiros) que me impressiona(ra)m favoravelmente.

Com excessiva antecedência movem-se os interessados (e respectivas cortes de interesseiros) na próxima corrida às eleições presidenciais.

Não sei (ainda) em quem irei votar. Mas há um “pré-candidato” que, sem me parecer um génio político, aprecio. Trata-se de António José Seguro. Eis as razões principais:

- foi sempre distante em relação às trafulhices de José Sócrates;

- teve a coragem de admitir que o número de deputados à Assembleia da República peca por excesso, perante o que é óbvio e se agrava há anos: muitos dos (supostos) representantes do povo fazem apenas número – não têm voz própria e votam como as cúpulas partidárias mandam;

- foi atirado escada abaixo por António Costa, num processo nem sempre elegante (assim me pareceu), mas soube retirar-se e manter-se digno e discreto;

- não colhe a simpatia de “socialistas” como Augusto Santos Silva, o que, na minha leitura, é bom sinal.

Vejo, por isso, com bons olhos que se candidate. Até porque as qualidades que se apontam a outros pretendentes ao lugar já os sucessivos incumbentes as encarnaram,  no todo ou em parte, e não se pode dizer que nós e o país tenhamos ganhado muito com isso.

Venha por bem quem for normal e leal. 

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Temperaturas «perspectivadas» e «projectadas»


Os meios públicos de comunicação social, rádio e TV, mas também todos os outros, deviam ter muito cuidado na utilização da (bela) língua portuguesa.

Hoje, às 09.00 horas, sintonizava a RDP – Antena 1 e não ouvi com agrado o locutor falar de «temperatura perspectivada» para uma e outra cidade, repetindo o termo «perspectivada», e terminando com a «temperatura projectada» para a cidade que referiu no fim da lista.

Só lhe faltou referir a temperatura prevista para qualquer das cidades, porque era de previsão que se tratava.

Não sei se há alguma entidade para seleccionar ou, pelo menos, para alertar os profissionais que, nas mais diversas instituições ou organizações públicas, têm de falar para as pessoas. Se não há, devia haver.

Acrescento, no entanto, que não sei quem falava hoje às 09.00 horas na RDP – Antena 1, pelo que admito que tenha sido alguma falha pontual da pessoa de serviço. Deus queira.

Para que conste, registo também que a antena 1 da RDP é uma estação de rádio em que oiço diversos programas, com muito gosto.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Extra ordinário


Dias mais compridos e luminosos cumprem a pré-Primavera em decurso e animam os espíritos. Janeiro é um mês longo, cinzento, frio e húmido (normalmente); e a primeira metade segue-se às festas do Natal e de Ano Novo, o que acentua as tendências depressivas. Mas, Janeiro já passou, os dias vão continuar a crescer e há uma ou outra flor que vai surgindo. Falta pouco para a Festa da Natureza.

É assim todos os anos. Valha-nos isso.

Fossem as nossas vidas e as políticas tão airosamente prometedoras.

O mundo está feio e não se descortinam «estações» auspiciosas.

Fabulosas conquistas dos seres humanos beneficiam os que podem, mas estão longe do alcance da maioria ou servem objectivos de subjugação da imensa mole dos mais fracos. As sociedades caminham vertiginosamente para as armadilhas utilitaristas dos poderosos, obscenamente ricos, mas que, também eles, não escaparão à derrota pelas consequências (sociais, climáticas, ambientais…) das suas retumbantes vitórias.

São tempos extra ordinários.

Como escapar à inexorabilidade dos algoritmos?

José Batista d’Ascenção

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Deputados da nação

Desde muito jovem, a seguir ao 25 de Abril, ao longo de décadas, admirei a qualidade de um número razoável de deputados do parlamento nacional. Nomes como os de Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral, Almeida Santos, Magalhães Mota, Sousa Franco, Natália Correia, Lucas Pires, Vital Moreira, Vasco da Gama Fernandes, Adriano Moreira, Helena Roseta, Manuel Alegre, João Amaral, Amaro da Costa, João Salgueiro, Jorge Sampaio, António Guterres, Marcelo Rebelo de Sousa, António Barreto, Pacheco Pereira, Mota Amaral, Oliveira Martins, Medeiros Ferreira e muitos outros deixaram em mim memórias francamente favoráveis.

Discursos com substância e ideias e beleza literária como os de Lucas Pires ou de Almeida Santos ou a poesia de Natália Correia eram peças de oratória de grande qualidade, que muito apreciava. E não eram incomuns nem solitárias. Ouvia-os e pensava que a palavras tão pertinentes e belas só podia corresponder o bem e a elevação moral e cívica, capazes de melhorar todas as condições do nosso pobre país, incluindo as da educação que haviam de fazer prosperar a economia.

E suportava facilmente as críticas de próximos e distantes que me acusavam de não optar por um campo partidário, execrando a eito os que não lhe pertencessem nem gravitassem por perto. Nos tempos do liceu, relativamente a colegas e professores, também vivi situação idêntica: apreciava todos aqueles que me pareciam dotados das qualidades mais diversas.

Por oposição, havia um rol de representantes parlamentares que sempre me pareceu que não mereciam o subido privilégio e a dignidade de serem deputados. E sabia que alguns só o eram e só tinham aceitado candidatar-se pela posição e pelos proventos. Justa ou injustamente, pareceu-me, ao longo destes cinquenta anos, que esta fracção de deputados se foi alargando. Na actualidade, a «casa da democracia» está muito mal frequentada e não honra o título. É o que sinto.

Ora, neste aspecto, não compreendo a posição daqueles que sempre se opuseram à redução do número de deputados. Seguramente com bons motivos ou, pelo menos, boas intenções, pois que homens como os Professores Jorge Miranda e Vital Moreira, se não erro, também são dessa opinião.

Mas, pergunto eu: que fazem no parlamento elementos que não intervêm de moto próprio e votam de acordo com as ordens que recebem?

E pergunto também: a «ciência política» e a matemática não estão em condições de, por conjugação adequada, proporcionar representatividade e proporcionalidade à diversidade ideológica do especto partidário com um número mais reduzido de representantes do povo? Se aqueles que enobrecem a função nunca foram além de escassas dúzias em cada legislatura, que fazem lá os restantes?

Um número entre 120 e 150 não seria já (mais do que) suficiente?

José Batista d’Ascenção