O que vemos vê-mo-lo com os nossos olhos. E as imagens do que vemos são construídas pelo nosso cérebro. Os daltónicos vêem as cores diferentes da generalidade das pessoas. O seu mundo de cores é diferente. As vacas não vêm como nós o verde das ervas que comem. Sabêmo-lo pelo estudo das células da retina. E não é contra o vermelho das capas que os toiros investem nas arenas. Os insectos são muito sensíveis às cores e alguns, como as abelhas, vêem radiação que os humanos não vêem, como seja a radiação ultravioleta. As informações que os nossos órgãos dos sentidos (ou os dos outros seres vivos) fazem chegar aos centros nervosos são aí transformadas nas sensações com que percebemos o que nos rodeia e no modo como reagimos a esses estímulos.
As realidades próximas e longínquas são o que são. As ideias que temos dessas realidades são de cada um de nós e é pela comunicação que são partilhadas pela generalidade dos seres humanos.
Entre as diversas pessoas ou comunidades ou gerações é o que comunicamos que estabelece o fundo dos referenciais culturais e sociais. A ciência não escapa a estas condicionantes.
A linguagem, nas suas diversas modalidades, o discurso, as histórias e os conteúdos, bem como os factores afectivos envolvidos, e, sobretudo, a força e o poder (a capacidade de dominar os outros, da mesma ou de espécies diferentes) ditam comportamentos e influenciam a psicologia dominante (a dominadora e a dominada). É como somos que vemos o real. E tendemos a formulá-lo de forma conveniente.
Por isso, a história da humanidade é essencialmente a história dos vencedores de cada comunidade humana, e pode ser (muito) antagónica em sociedades diferentes, com interesses não coincidentes.
As ciências, particularmente as ciências exactas e experimentais, deviam permitir-nos grandes aproximações à objectividade no sentido de que as mesmas causas, nas mesmas condições, produzem os mesmos efeitos ou de que a lógica e o cálculo funcionam imunes ao subjectivismo interesseiro, mesmo que nunca saibamos qual é a natureza íntima e última das coisas e dos fenómenos.
Foram as ciências que nos trouxeram aos imensos progressos que conseguimos.
Falta sabermos o que fazer com os seus extraordinários frutos, em sociedades em que cada ser humano seja beneficiário efectivo de todos os direitos básicos que já conseguimos formular numa carta.
José Batista d’Ascenção