quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Mercantilização dos aniversários pessoais

Todos os dias faço anos: por exemplo, o ano passado, nesta data, contava menos um… O mesmo se passará amanhã, depois de amanhã, etc. Acontece que, após a infância, nunca valorizei o meu dia de aniversário natalício, data em que, além do mais, nunca fiz nada que decorresse especialmente de mérito meu. Esta posição pouco comum, de ortodoxia pessoal, sempre a reservei para não ser deselegante com os que muito prezo e sempre me felicitam, e para não chamar as atenções para uma originalidade eventualmente menos bem interpretada. Felizmente, os da casa sabem e convivem bem com o facto.

Claro que me sabe bem que se lembrem de mim. E desejo-o como qualquer mortal. Mas esse prazer vivo-o com a mesma intensidade em qualquer dia do calendário. E tenho necessidade de sentir a amizade e o carinho com a maior frequência possível.

No mais recente dia de aniversário do meu nascimento, logo de manhã, recebi mensagens de felicitações geradas automaticamente, seguidas de aviso de impossibilidade de responder, da instituição em que trabalho, de uma loja de óculos, de uma casa de aparelhos auditivos e da farmácia. “Mails” com condições idênticas chegaram de uma editora e do banco que me cobra para ter o meu (pouco) dinheiro. Que me interessa isto?

Na rede social a que um dia aderi para ler os textos do Professor Galopim de Carvalho sou alertado para as datas de aniversário de muitas pessoas, de que, ordinariamente, não me lembraria. Que valor tem eu felicitar essas pessoas se isso acontecer apenas porque a tecnologia me avisa?

E, no entanto, todos os pretextos são bons para fazermos sentir a outros que os estimamos. Fazê-lo fá-los sentirem-se bem, eles e nós. É assim como que pôr pitadas de açúcar no mundo, no nosso mundo e no mundo daqueles com quem gratamente o partilhamos.

Haja pois, muitas e boas e sentidas felicitações.

José Batista d’Ascenção

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