quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Manhã fresca

Hoje, a manhã, embora com cheiro a fumo (mau sinal…) esteve fresca, do fresco matinal das minhas recordações de outros Agostos de há décadas, neste interior que era de pinhal (e agora é de eucaliptos).

Cheguei cedinho ao centro da vila (de Oleiros) para estacionar o carro facilmente e ser o primeiro (ou dos primeiros) a ser atendido na repartição onde precisava ir.

Felizmente, a esplanada da praça central abre cedo, pelo que me sentei com a gulosa expectativa de saborear um bom café e gozar a fresca das árvores densas e frondosas. Logo ali, o repuxo do lago proporcionava mais um motivo de confortável relaxe.

Faltavam pássaros, para além de um ou outro pardalito de voejos murchos.

O café não deleitou (saudades do do Senhor Miguel, de Braga), mas o compasso de espera foi agradavelmente repousante, o justo tempo de matar o vício, preguiçar um bocadinho e fazer este registo. Boa maneira de começar o dia, que há-de cumprir-se de forma compensadora.

Meu país bonito.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 12 de agosto de 2025

À beira d’água, na Ribeira da Sertã


O ar é um bafo. Esturrica-se, mesmo à sombra dos amieiros, ainda que com os pés na água. Por causa das minhas orelhas, desgostante fragilidade pessoal, não vou ao banho. Fico-me na esplanada ou nos bancos da zona de relva fresca e passo os olhos por algumas páginas de interesse. Mas não, a leitura exige (de mim) o recolhimento necessário.

Neste meio não me abstraio do gralhar musical das crianças, que são muitas e é bonito vê-las. Mães extremosas e pais dedicados acompanham-nas com desvelo.

Gosto de pensar que tanto afecto há-de dar adultos melhores. O mundo bem precisa, que o ar dos tempos afigura-se-me plúmbeo e tóxico.

Se assim não for, mal será.

E os meus netos, e todos os netos, de todos os avós, têm todo o direito ao optimismo e ao sonho, porque pelo sonho é que vamos.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Casa com osgas

Agosto. Sol. Calor. Temperaturas altas a todas as horas do dia e da noite.

Os incêndios atormentam (mais) a Norte, mas a Beira Baixa não entrou em combustão real, por enquanto, embora o chão, à torreira do sol, escalde.

Na casinha que era dos meus pais, nas paredes exteriores viradas a poente, ao crepúsculo vespertino, são agora comuns as silenciosas osgas, ora paradas ora em movimentos bruscos na caçada aos insectos.

Tentei explicar que se trata de bichos simpáticos, inofensivos e muito úteis. Não fossem elas e era ainda preciso ter mais difusores anti-melgas nas tomadas eléctricas.

Quando eu era menino, jovem e já pai de filhos só as conhecia no Algarve. Admito que tenham migrado para Norte, à medida que as temperaturas médias foram subindo até aos limites do suportável, como agora acontece. Por elas, são bem-vindas.

Igualmente benfazejas são as andorinhas, que volteiam nos ares em certos dias, devorando miríades de mosquitos e afins.

Desertas em tempos comuns, estas terras animam-se por estas alturas com o regresso de emigrantes – sim nós somos um país de emigrantes! – e com os que retornam às origens provindos dessa aldeia maior de Portugal, que é Lisboa e arredores.

É bonito Portugal. Pena o indigenato governativo e algumas más frequências. 

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 21 de julho de 2025

O mundo e o poder da ciência

A ciência salvará o mundo?

O progresso da ciência e da técnica, sobretudo nos últimos três séculos, operou modificações sociais e ambientais a um ritmo extraordinário. A superfície do planeta, os rios, as montanhas, os desertos, as extensões geladas, as florestas, as populações animais, a atmosfera, os oceanos e as suas formas vivas têm sido alvo directo e indirecto da acção humana, abarrotando de resíduos materiais e químicos perniciosos que se dispersam no ar, nos solos e nas águas.

Apesar disso, uma fracção da humanidade, ainda que minoritária, nunca viveu tão bem como nos anos mais recentes.

Se formos optimistas, podemos pensar que as perturbações que a humanidade desencadeia sobre o ambiente são possíveis de resolver, com recurso à reflexão, às necessárias mudanças de comportamento e agindo, naturalmente, por meio da ciência. Talvez.

Ou o mau uso da ciência destruirá o mundo?

O tamanho da população humana, o paradigma do consumismo, as produções industriais e os tóxicos que alastram por todos os locais põem em causa a biosfera e as possibilidades de sobrevivência das espécies biológicas mais complexas ou mais sensíveis e, por essas razões, de mais difícil adaptação à variação radical dos habitats e das suas condições.

Por outro lado, a sede de poder, o egoísmo e o materialismo, tão característico do ser humano, individualmente ou em sociedade, tendem a conduzi-lo para lutas constantes, no espaço e ao longo das gerações, transformando as guerras e os dispositivos bélicos em factores que, hoje, são capazes de, rapidamente, eliminar comunidades inteiras de imensas regiões ou mesmo de toda a Terra.

Um equilíbrio de terror pode evitar que aconteça, mas não é seguro nem agradável que seja assim.

Sendo certo que a evolução da humanidade, ou o seu fim, como o de tantas espécies biológicas, pode também ser determinado por outros elementos não dependentes da atividade científica do Homo sapiens. Foi o que aconteceu há certa de 65 milhões de anos, uma extinção em massa que dizimou grande parte da vida na Terra.    

José Batista d’Ascenção

domingo, 20 de julho de 2025

«Physarum polycephalum» – exemplo de um ser vivo de difícil classificação

É um bolor limoso, comum em troncos apodrecidos de florestas europeias e norte-americanas.

Desafia as bases do pensamento lineano. Não é um fungo nem um animal nem uma planta.

Tem um sistema imunitário que funciona no meio externo em vez de internamente. Segrega uma substância antiviral muito potente, capaz de eliminar a 100% o vírus do mosaico do tabaco, que afecta a planta do tabaco, o tomate, o pimento e o pepino. Consegue hibernar durante anos a fio. É, de algum modo, um organismo unicelular, mas não é um micróbio - o Guiness Book of World Records regista-o como a maior célula do planeta. Se for dividido, os segmentos podem funcionar perfeitamente de forma independente. Podem também fundir-se homogeneamente em diferentes espécimes, colhidos em locais diferentes. Pode deslocar-se à velocidade de 4 cm por hora. Oculta uma vida sexual extraordinariamente complexa. Em vez de dois géneros, macho e fêmea, o Physarum polycephalum tem 720 formas distintas de pares reprodutores – uma profusão de variações em matéria de sexualidade.

O Physarum polycephalum é capaz de aprender: para encontrar fontes de alimento dissemina-se segundo um padrão simultaneamente crescente e autocorrector, ocupando a quantidade máxima de território com um mínimo de recursos. Por isso, consegue encontrar o caminho mais rápido para fora de um labirinto ou os trajectos mais curtos entre locais diferentes.

Sem sistema nervoso central é capaz de recordar. De algum modo consegue reter o que aprendeu. Se for colocado no mesmo labirinto com um intervalo de tempo de semanas, reconhece o labirinto e recria o anterior itinerário de fuga. Se for um pedacinho do organismo fará o mesmo.

Classificado e identificado em 1822, foi ignorado até 1970. Não compreendemos a sua inteligência, mas tentamos colaborar com ele. Recentemente, começou a ser usado para explorar o cosmos…

in: «A Invenção da Biologia». Jason Roberts. Ed. Temas e Debates. 1ª edição. Lisboa. 2025. 410-411 p.

José Batista d’Ascenção

sábado, 19 de julho de 2025

A Baleia-azul não é o maior ser vivo da Terra

Terminada a leitura do maravilhoso livro «A Invenção da Biologia», de Jason Roberts, ocorre-me registar alguns factos contrários à percepção comum, como seja o tamanho descomunal de alguns seres vivos.

«É o caso do choupo, conhecido por Pando, do centro de Utah [estado da região oeste dos EUA], que é tão grande que ocupa 44 hectares e pesa cerca de seis milhões de quilogramas. Em 1976, investigadores da Universidade do Colorado descobriram que o que parecia ser uma floresta monoespecífica de choupos eram, na realidade, 40 mil clones da mesma árvore, interligados pelas raízes (os clones não se propagam através de sementes). Pando é verdadeiramente um organismo único. Quando uma árvore começa a morrer reconstitui-se enviando sinais pelas raízes e um novo clone emerge. Este ser existe desde pelo menos desde a última idade do gelo. A acção humana pode ter interrompido a sua reconstituição e conduzir a um lento declínio e à eventual morte.» [p. 400-401].

«Em 2015, descobriu-se que um único espécime do fungo armilária-escura (Armillaria ostoyoe) se estende por cerca de 965 hectares na Malheur National Forest do Oregon.» [p. 401].

Mais recentemente, «em 2022, os biólogos estabeleceram que um povoamento subaquático de ervas marinha australianas (Posidonia australis) germinou de uma única semente, há cerca de 4500 anos e que hoje se estende por mais de 19 mil hectares. Este povoamento vegetal deverá continuar a desenvolver-se e a crescer, a menos que seja perturbado pelos humanos.» [p. 401].

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Trevo de “quatro folhas”


Chamam-se trevos de quatro folhas aqueles que em vez de três folíolos por folha [daí o nome de trevo, palavra que deriva do termo latino trifolium, com o significado de «três folhas»] apresentam quatro. Nos campos, estas formas selvagens com quatro folíolos eram raras, mas, actualmente, porque popularmente se considerava um sinal de boa sorte encontrá-las, passou-se a obtê-las em quantidade por métodos diversos, e a envasá-las para venda.

O exemplar da foto é apenas uma variedade cujos bolbos plantei no meu quintal. A reprodução por bolbos é muito fácil e assegura a manutenção das características, dado tratar-se de um método de reprodução assexuada, formadora de clones.

Os órgãos sexuais (das plantas com flor) são as flores, mas a reprodução sexuada produz variabilidade, pelo que os descendentes podem variar entre si e em relação às plantas progenitoras.

Os trevos são plantas que possuem nódulos nas suas raízes que albergam bactérias fixadoras de nitrogénio gasoso (N2), tradicionalmente designado azoto. Estas bactérias, que infectam os nódulos das raízes das plantas leguminosas, fazem delas o chamado «adubo verde», porquanto o nitrogénio fixado é convertido em compostos azotados necessários à nutrição das plantas. Em compensação, as plantas fornecem às bactérias alimento açucarado que fabricam nas folhas, por acção do sol, no processo da fotossíntese. Esses compostos azotados servem à planta hospedeira, mas também enriquecem o solo, beneficiando outras plantas.

Os trevos são plantas forrageiras de bom valor nutricional para animais.

José Batista d’Ascenção