Perdeu-se o tempo ou a ideia de associar o Natal a uma quadra de paz, doçura e amenidade. Afectivamente, eu senti-a assim. Agora, as imagens constantes da violência e do terror são tão presentes que não deixam espaço para a conveniente ilusão da bonomia geral do mundo.
Por isso, tenho cada vez mais a nostalgia do Natal como tempo imprescindível para as crianças e como necessidade afectiva e idiossincrática dos adultos.
Esclareça-se: não é de ontem que tenho saudades, é de hoje e de amanhã.
Veio o plástico e enchemos a criançada de brinquedos. Afogámo-la em quinquilharia e no vazio do tempo que não lhe dedicamos, porque muito atarefados para, entre outras coisas, comprar mais plástico, de cores variegadas, tantas vezes em jogos que haviam de tornar cada criança mais inteligente e desembaraçada.
Mas só as cores não chegavam. Então, adicionámos o ruído, o matraquear, o estralejar e as sequências de notas musicais estridentes e repetitivas. O que também não chegava.
Por isso, juntámos o catrapiscar do acende-e-apaga súbito ou lento ou tudo intercalado e multiplamente colorido.
A cada Natal, meio atordoado, eu olho e (não) aprecio. Os meus vizinhos, do lado oposto da rua, procedem muito bem: à noite, ligam tarde os seus sistemas luminosos expostos em paredes, varandas e janelas e desligam-nos bem cedo, à hora crepuscular, quando, na cozinha, preparo os pequenos-almoços.
Um dia destes pus-me a seguinte questão: que fariam os pirilampos se pudessem afectar de forma drástica o ciclo de reprodução dos humanos?
Festas felizes para todos.
José Batista d’Ascenção