sábado, 17 de setembro de 2016

Tal dia como hoje nascia um incansável e genuíno ambientalista português


[Segue-se artigo publicado no “Diário do Minho” no dia 28 de Novembro de 2013. Porque pertinente e actual reedita-se com adaptações de pormenor]


Jorge Américo Rodrigues de Paiva

Botânico, professor, investigador, ambientalista e divulgador

As linhas que se seguem não se debruçam sobre a obra científica do botânico Jorge Paiva. Relativamente a essa matéria não faltará quem, com propriedade e competência, a registe e aprecie como é devido. Trata-se apenas de um humilde texto de reconhecimento e gratidão à pessoa e ao cidadão empenhado sobretudo nas causas do ambiente e da sobrevivência humana, ao Mestre e amigo de quantos gostosamente o procuram, o ouvem e com ele discutem as suas mensagens. 
O Professor Jorge Paiva nasceu em Angola, a 17 de Setembro de 1933. Formou-se na Universidade de Coimbra onde foi investigador e professor das Faculdades de Ciências e de Farmácia. Leccionou também em várias outras universidades. Entre os alunos era muito admirado e estimado, quer pelo rigor, quer pela clareza das suas lições, quer pela disponibilidade para os receber e esclarecer, chegando a acompanhar alguns de forma sistemática, dando-lhes explicações mesmo de matérias que não eram a sua ocupação diária, por exemplo de química. Com os seus alunos, era muito comum sair dos muros da universidade, ou dos espaços do jardim botânico e levá-los a conhecer a flora e a fauna das mais variadas regiões: Margens do Mondego, Mata da Margaraça, Paul de Arzila, Gerês, Estrela… Fez investigação em Portugal, no continente e no que eram as antigas colónias portuguesas em África, e no estrangeiro (durante três anos trabalhou em Londres nos Jardins de Kew e na Secção de História Natural do Museu Britânico). Foi várias vezes premiado pelos seus trabalhos de investigação, quer publicações de botânica quer relacionadas com a saúde (estudo de pólenes e alergias), quer ainda pela sua acção como ambientalista. Outros botânicos prestam-lhe homenagem baptizando novas espécies de plantas, de diferentes continentes, com nomes (latinizados) derivados do seu, como é o caso da Dendroceros paivae, uma planta semelhante a musgo, de S. Tomé e Príncipe, ou de diversas angiospérmicas (plantas com flores que dão frutos que encerram as sementes) de que são exemplos: a Hyancinthoides paivae, uma liliácea do Minho e da Galiza, a Monotes paivae, uma planta africana, da província do Bié, em Angola, e a Argyreia paivae, uma planta trepadeira, de Timor.
Muito dedicado à causa do ambiente palmilhou o país de lés-a-lés, observando, fotografando, ouvindo as pessoas e fazendo palestras para os mais variados auditórios. Alertou atempada e energicamente para o erro da extinção dos serviços florestais, para o contra-senso da monocultura florestal, como no caso do eucalipto, para os enormes riscos de incêndio, para a progressiva destruição do coberto arbóreo de vastas zonas e dos cimos montanhosos e para a desertificação humana do interior do país. Sensível, muito atento e disponível, percebeu desde sempre a necessidade de formação e de actualização dos professores do ensino básico e secundário, que passaram a ver nele um apoio de generosidade inteira e limpa: desloca-se onde o chamam, desdobra-se em conferências e palestras pelas escolas, onde adultos e jovens, com formações muito diversas, e mesmo as crianças mais pequenas, o ouvem com espanto e atenção; somaram-se centenas e depois milhares de sessões sempre com a mesma prontidão e energia, sem nada cobrar por viagens, dormidas ou refeições, refeições que, por vezes, chegou teimosamente a pagar aos acompanhantes. Como formador de professores conduziu dezenas deles a variados locais de interesse, como os acima referidos e a outros, como a Foz do Sado ou a Serra Algarvia. Da Madeira, trouxe alunos de pós-graduação ao Gerês. Continua a correr o mundo, procura os “santuários” naturais e as zonas degradadas pela poluição: observa, fotografa, estuda, documenta e divulga. Não desiste da sua mensagem nem afrouxa a sua disponibilidade. O amor pela Natureza fê-lo comemorar os seus oitenta anos subindo ao Pico da Nevosa no Gerês, numa caminhada de cerca de 24 quilómetros. Com fundamento, alerta-nos para a condição do ser humano “preso” na gaiola “Terra”, que nos mostra em imagens reais, captadas por si nos locais mais díspares. É com belas imagens dessas que ilustra as muitas centenas de postais de Natal que todos os anos envia a muitas centenas de pessoas, uma ideia original que combina uma enorme ternura com lições de ecologia em várias línguas, em resumos densos e curtos, mas fáceis de compreender. “Cidadão da Natureza” diz, com alguma pena: «Só me falta ir à Antártida!»
(…)
Recentemente, o canal dois da RTP emitiu quatro documentários intitulados “No trilho dos naturalistas”, em que o Professor Jorge Paiva é protagonista de destaque, imerso em ambientes distintos e distantes, que descreve e explica com clareza, servido por um conhecimento vasto e profundo, que sabe como ninguém tornar acessível, cativante e pedagógico.

Aqueles que de há muito o conhecem, estimam e procuram felicitam-no carinhosamente, deixando ao Bom Mestre, de ontem e de hoje, o Obrigado de sempre.

José Batista d’Ascenção

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