Os (belos) ideais de paz e prosperidade na Europa, depois de duas guerras mundiais que tiveram lugar no seu seio na primeira metade do século XX, e com apenas vinte e um anos decorridos entre o fim da primeira (1918) e o início da segunda (1939), pareciam não só desejáveis como possíveis a muitos cidadãos do velho continente, que aderiram ao sonho de visionários como Jean Monnet e acreditaram na ação de grandes líderes que sabiam, com firmeza de princípios e tacto político, conduzir-se e conduzir os povos (Jacques Delors, Billy Brandt, Helmut Schmidt, Helmut Kohl…).
Porventura, grandes pensadores e grandes líderes assim como os muitos que os admiraram e seguiram descuraram factores intrínsecos da alma humana, como o egoísmo e o prazer da maldade gratuita, os quais, latentes em qualquer tempo e em qualquer lugar, se soltam e propagam vertiginosamente se as condições que os limitam - regras, leis e comportamentos fundados na sabedoria, no exemplo, na experiência e na acção dos homens bons - afrouxam a sua eficácia.
O horror nazi que nasceu e se expandiu entre povos cultos da Europa como eram o alemão e o austríaco, e com que muitos polacos, húngaros, checoslovacos e ucranianos contemporizaram, é exemplo maior do mal absoluto com que a natureza humana pode conviver ou mesmo comprazer-se.
Porque a História humana é um cortejo de horrores, que não temos o direito de esconder ou camuflar com o bom e o belo que, felizmente, (também) a pontuam, cabe à humanidade o dever fundamental de se obrigar ao respeito e à prudência, à generosidade e à solidariedade. E tais deveres e obrigações devem estar muito presentes na mente e na acção dos líderes que os povos elegem (pelo menos nesses…).
Ora, quando uma líder como Angela Merkel, aqui há alguns anos, afirmou que os portugueses trabalhavam pouco e tinham mais tempo de férias que os alemães, não só foi duplamente injusta e ofensiva - os portugueses são pouco eficientes (trabalhamos mal) mas não são preguiçosos (trabalhamos muito) – como soltou os demónios que devem povoar a cabeça de muitos teutões… Nesse e noutros aspectos foi (intencionalmente ou não) irresponsável, fomentando sentimentos extremistas não só de alemães como de fracções significativas dos povos do Norte, França incluída. O que depois continuou a passar-se, com particular incidência na Grécia, às ordens de uma (des)União Europeia ilegitimamente comandada por Merkel, foi mau demais, desencadeando perplexidades e receios nos povos da Europa meridional, alimentados por manifestações de desprezo (de alguns) dos ricos dos países setentrionais. Os passos positivos que Merkel começou por dar recebendo milhares de refugiados (a pensar em mão de obra para a indústria alemã?) apaga(ra)m-se com o que aconteceu a seguir e se mantém e é intolerável, deixando uma (des)união de países desenvolvidos às mãos de falsos democratas que não respeitam os mais elementares direitos humanos, como se passa na Turquia. Na Europa, Merkel é uma mandante (aparentemente) insensível aos ódios entre povos que, no fundo, está a estimular. Ainda bem que manda menos no mundo do que gostaria e que viu anuladas as falcatruas a que obrigou a fraca (e hipócrita) direcção da (des)União Europeia na muito recente escolha do secretário geral da ONU.
O mundo não tem nada de especial a agradecer a líderes políticos como Angela Merkel e os cidadãos (que se querem esclarecidos) precisam exigir mais e melhor dos seus eleitos. Confiemos por isso que, do outro lado do Atlântico, os americanos façam o que devem derrotando o escroque Trump, mesmo que tenham que contentar-se com uma presidente cheia dos “pecados” dos políticos encartados, que nunca fizeram outra coisa na vida.
No mínimo, não deixemos morrer a esperança de que é (sempre) possível construir um mundo melhor.
José Batista d’Ascenção
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