MAIS DO QUE A MORTE, ASSUSTA-ME A SOLIDÃO DOS VELHOS
Este flash de fim de vida, intensamente estampado nesta fotografia de Jorge Vieira, cala bem no fundo da nossa sensibilidade, não pela sombra do companheiro que partiu, já liberto e descansado das dores do corpo e da alma, mas pela irreversível solidão da que ainda espera pelo começo dessa viagem.
Tudo dói na crueza desta imagem. É a expressão no rosto da velha senhora, é o seu cabelinho ralo e desalinhado e o seu corpo, que se adivinha ressequido, escondido numa roupa que, por isso, ficou vários números acima. São os sapatos e as meias, de quem não tenciona sair à rua. É aquela mão agarrada ao canto da mesa e é ainda a toalha, grande demais para a pequena mesa a dois, agora dobrada e a dizer que, estendida, serviu uma família inteira que se esfumou. Pelos vincos bem marcados, esta toalha, talvez de linho, que ela própria bordou em tempos de jovem casadoira, a juntar ao enxoval, mostra que acabou de sair de um velho baú, com anos e anos de dobrada e adormecida ao lado de um saquinho de alfazema.
A. M. Galopim de Carvalho
A. M. Galopim de Carvalho
Meu Querido Amigo.
ResponderEliminarMeu Querido Professor.
Não menos pequena é a solidão (eventualmente não sentida como tal...) de todos os que deixam que os nossos mais velhos se sintam assim. Pobres de nós. Quanto precisamos deles. Até como antevisão de um futuro que, não muito longe, nos aguarda e que não devíamos deixar caminhar num sentido pior ainda.
Muito grato, desejo-lhe um Natal a transbordar de carinho e amizade, incluindo o que sinto por si.
JB