Terminei há pouco a leitura do livro “A Guerra do Fim do Mundo” de Mário Vargas Llosa. Tinha esta obra em dívida, há muitos anos, e só agora cumpri o meu “dever”. É um romance do outro mundo: impressionante, empolgante, comovente, perturbador e… chocante. Só um génio arquitecta e desenvolve uma trama assim, densíssima, “matematicamente” articulada, com personagens arrepiantes e uma análise/exposição da natureza humana tão profundas quanto incomodativas.
O livro pertence à “Coleção Essencial”, editada pela Leya e pela RTP. Felicito ambas pelo esforço de colocar no mercado obras de referência de autores consagrados a preços (mais) acessíveis (10,00 euros). A tradução parece-me bem. Se a minha opinião interessasse recomendaria cuidado acrescido com a ortografia: na página 74, escreve-se «gado estraviado», em vez de «extraviado»; na página 76, está escrito «Monárquicos embuscados», em vez do correcto «emboscados»; e na página 346, escreve-se …«a viagem é tão cumprida»…, em vez de «comprida». Pode-se dizer que são três erros (em que reparei) em 620 páginas, mas são três erros ortográfios que estão a mais, numa obra tão extraordinária. Raras, uma ou outra imperfeição em construções frásicas (na minha opinião) não deslustram o imenso trabalho do tradutor (Salvato Telles de Menezes). Tratando-se da edição de livros cujo objectivo será levar a leitura a pessoas de menos posses, convém também que a escrita seja irrepreensível a fim de que todos a apre(e)ndam com o maior rigor possível.
A este propósito, convém não perder de vista que o «novo acordo ortográfico» cria por vezes situações indesejáveis, razão por que é preciso não esconder a cabeça na areia e rever aquele «acordo», a fim de eliminar as mais óbvias e inaceitáveis. Na obra «Os Buddenbrook» de Thomas Mann (tradução de Gilda Lopes Encarnação), da mesma colecção, na página 378, na primeira linha, escreve-se …«breves interruções»… suponho que por causa do dito «acordo». Isto são pormenores? São. Têm importância numa obra com 783 páginas? Sim, têm, como teriam em qualquer mensagem curta…
Sou bastante avesso a nacionalismos e regionalismos ideológicos (que não os culturais e tradicionais) e desconfio de certos ideais proclamados como «patrióticos», mas acalento a ideia de «mátria», no sentido em que a referia Natália Correia. Donde, roubando a ideia a Pessoa (heterónimo), digo a mim próprio que a minha mátria é a belíssima língua portuguesa, que me esforço por não maltratar.
Boas leituras.
José Batista d’Ascenção
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