Caríssimos bombeiros de Portugal:
Esta manhã, quando saí à rua, olhando além só via fumo. Minutos depois, ouvia notícias de mais de uma centena de pessoas deslocadas das suas casas, devido aos incêndios. Desde há semanas atrás carregamos o peso imenso da tragédia de Pedrógão. Em cada dia são inúmeros os focos de mais e mais fogos, sempre fogos, durante o Verão.
Caríssimos bombeiros: Aprecio imenso a abnegação e mesmo o heroísmo da vossa acção, mas desgosta-me viver num país assim. E não me conformo com a realidade que se agrava, de ano para não, ao longo de décadas, como se os portugueses não tivessem olhos para ver e cabeça para pensar. Creio que é manifesto que o modo como lidamos com a nossa floresta e enfrentamos a calamidade dos incêndios não resultam. E eu gostava que fossem os próprios bombeiros, pela voz de quem os representa, a afirmar perante os portugueses e a informá-los de que é preciso mudar muita coisa. Mudar a atitude dos cidadãos. Mudar (exigirmos que mude) a atitude dos autarcas locais (veja-se como não faltam milhares e milhares para tantos “outdoors” ridículos por essas 308 câmaras e 3092 juntas de freguesia fora…). Mudar a atitude das autoridades. Mudar a atitude das forças militarizadas. Mudar a atitude e a acção da protecção civil (que, a meu ver, ainda não merece o nome). E mudar também a atitude… dos bombeiros.
Caríssimos bombeiros, não me leveis a mal. Vós sabeis muito melhor do que eu que é preciso mudar e melhorar a vossa imprescindível acção, até para protecção das vossas vidas, de que tanto precisamos. Porque estais calados e quietos durante o Outono, o Inverno e a Primavera? Não é preferível identificar todas as áreas perigosas, especialmente na proximidade de povoações e casas e, durante as estações frias e de chuva, queimar preventivamente os matos que ardem horrivelmente no Verão? Esses matos podem ser queimados com preservação das árvores (vi fazer isso sob a orientação do meu falecido pai, quando era menino…). Os proprietários opõem-se? Talvez, mas nem todos e muito menos se oporiam se os bombeiros o propusessem. E se a legislação o permitisse. E se as autoridades assegurassem a possibilidade dessa forma de prevenção. Desse modo, os bombeiros seriam eficazes e mesmo eficientes, pois que o que se gasta em combustível, em mecânica e em novos veículos de combate ao fogo em cada Verão deve somar quantias astronómicas. Sem falar das vantagens ambientais, ecológicas e económicas e da poupança de tantas vidas, incluindo, naturalmente, as de bombeiros.
Era isto que queria dizer-vos. Calculo que não tenhais tempo nem paciência para me “dar ouvidos” por agora, tal é a azáfama. Nem no nosso país se costuma dar qualquer importância à voz isolada dos cidadãos. Mas muito gostaria que lá por Setembro e Outubro alguém de (entre) vós pudesse atentar no que singelamente escrevo neste momento.
Com o meu fraterno abraço.
José Batista d’Ascenção
Sem comentários :
Enviar um comentário