Destruímos a floresta, diminuímos a produção de oxigénio, aumentamos a concentração de dióxido de carbono atmosférico, porque, por um lado, este gás é produzido na combustão e, por outro, deixa de ser consumido pelas plantas no processo da fotossíntese (responsável pelo crescimento de toda a vegetação), contribuindo duplamente para o aumento de temperatura, quer derivado ao calor que resulta imediatamente do fogo quer devido ao aumento dos gases que, como o dióxido de carbono, retêm o calor na atmosfera (efeito de estufa). Diminuímos drasticamente a riqueza em madeira que poderia ter uso na indústria do mobiliário e outras, com reflexos negativos no emprego e na economia do país. Desfeamos miseravelmente a paisagem, eliminamos o conforto da sombra no Verão e o consolo para a vista e para a alma em qualquer altura. Afectamos muitas espécies vivas ou destruímos mesmo os ecossistemas. Os topos das montanhas são os primeiros a desertificar-se: após aos incêndios, as sementes que caem podem eventualmente germinar no inverno seguinte, mas se o fogo se repete, em anos sucessivos, à superfície só restará a rocha nua. Sem as raízes das plantas, o solo, mais ou menos espesso, sofre erosão, é arrastado pelas águas das chuvas e levado para as barragens, que ficam assoreadas. Estes solos, mais cedo do que tarde chegarão à foz dos rios e aos fundos dos oceanos, e deles não tiraremos qualquer proveito.
Entretanto, os habitantes que ainda restam no interior (é irónico: o nosso interior dista da linha de praia menos que duas centenas de quilómetros em qualquer ponto do país…), velhinhos a maior parte deles, vêem a destruição impiedosa da floresta, do cultivo das suas terras, dos seus animais, senão mesmo das suas casas e das suas vidas.
E contudo, não tinha que ser assim. A superfície florestal em Portugal é muito extensa e devia ser rentável ambientalmente, ecologicamente, socialmente e economicamente. Não o é por responsabilidade nossa, dos cidadãos em primeiro lugar e dos políticos, governantes e autarcas a quem não temos sabido exigir medidas. Com a tecnologia que existe, no mínimo, cortar mato, pinheiros e eucaliptos, obrigatoriamente, numa faixa de contenção suficientemente larga (100, 200, 300 metros?...) à volta de todas as casas e de todas as povoações, aldeias, vilas e cidades, e plantar nelas árvores menos inflamáveis (castanheiros, carvalhos, sobreiros, azinheiras…) ficaria seguramente mais barato do que os ineficazes e caríssimos sistemas de combate directo ao fogo que usamos todos os verões. E ordenar minimamente a floresta não é coisa que não saibamos fazer, há muito tempo…
Porque não o fazemos? É isto que não compreendo.
Às crianças de hoje e de amanhã apresento desculpas pela irresponsabilidade, incúria e incompetência dos portugueses adultos como eu.
José Batista d’Ascenção
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