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O continente português é um pequeno rectângulo com grande diversidade ambiental. De Norte a Sul viaja-se do verde do Minho - cada vez mais «glauco-verde-brilhante-eucalipto» - e da rudez telúrica de Trás-os-Montes e Alto-Douro até às praias luminosas do Algarve, passando pelas particularidades rústicas das «terras do demo» ou, mais pelo litoral, até atravessar as campinas ribatejanas e seguindo depois pelas planuras ondulantes do Alentejo. Os relevos são geralmente mais elevados do lado de Espanha e inclinam genericamente para o raso das bordaduras atlânticas. Diversidade paisagística temo-la também desde o mar até à fronteira com Espanha, no «interior» que, entre nós, é o conjunto de terras que distam do oceano entre 30-40 km, ou menos, e um máximo aproximado de 200 km, em linha recta. Este nosso «interior» é, paradoxalmente, atravessado por muitas estradas de construção recente, com bom piso e traçado a convidar a velocidades excessivas, que enegrecem a contabilidade de acidentes. Trata-se de vias de circulação que, ao invés de contribuírem para a fixação de pessoas nessa zona, se converteram em mais um estímulo para a sua desertificação progressiva. Os portugueses em Portugal são (relativamente) poucos e os que não emigram vão-se deslocando para a estreita faixa de terra que debrua o mar…
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As ilhas dos Açores e da Madeira conferem à globalidade do país algum subtropicalismo atlântico húmido e verdejante, aumentando significativamente o leque de variações da paisagem portuguesa.
Acerca das nossas gentes (isto é, de nós próprios), da nossa alma, da nossa disponibilidade e generosidade, também haverá razoável consenso. Mas há em nós traços histórico-culturais e de carácter de que resultam frustrações dolorosas. O coração grande dos portugueses, especialmente em alturas de perigo ou emergência, parece ser avesso à racionalidade da ciência que desconhecemos, desvalorizamos e desprezamos. Os (nossos) grandes poetas não esqueceram o «mal de inveja» que nos corrói e podiam escrever eternamente sobre as responsabilidades que descuramos em nós e exigimos dos outros (que podem ser todos, reais ou imaginários, excepto nós e os que, por alguma razão, julgamos «nossos»). Entre esses «outros» destacam-se os políticos, os poderosos, os que decidem, mesmo que escolhidos/eleitos com o nosso voto. Às vezes, os «outros são os nossos vizinhos ou os nossos colegas ou superiores ou subordinados, no trabalho. E se esses «outros» são atreitos ao zelo excessivo em causa própria, qualquer que seja, não somos eticamente exigentes com eles (porque também não o seríamos connosco próprios), salvo se alguma das suas acções colide com os nossos interesses (caso em que defendemos acerrimamente a ética, os princípios e a honra). Na realidade, se aspiramos a uma sociedade em que os princípios éticos estão acima e antes da redacção das leis e se somos cidadãos contribuintes com os impostos em dia, essa colisão é efectiva e irremediável, mas temos grande facilidade em ignorar o facto, como se o mesmo não implicasse qualquer prejuízo da nossa parte. Por isso, acalentamos implícita ou explicitamente o dito que afirma que «quem parte e reparte e não fica com a maior parte ou é burro ou não tem arte!». Este modo de pensar (e sentir) e (de) agir condiciona grandemente a sociedade portuguesa: como não há referências éticas precisas com estipulada aceitação universal, não há política impoluta, nem justiça que funcione nem escola que valha.
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Segundo cada um de nós, a culpa - a que devíamos chamar responsabilidade - é sempre de terceiros, pelo que o que falha não resulta de prática pessoal assumida ou do incumprimento da palavra dada, já que o nosso sentido de justiça é (demasiado) centrado (e funciona) em (proveito de)… nós mesmos. Em consequência, somos tão diversos em certas tradições e manifestações culturais e sócio-políticas (vejam-se as diferenças Norte-Sul ou entre continente e ilhas), quanto uniformes naquela «ronha» que tão rigorosamente nos caracteriza (e diminui e prejudica).
Não sei, porém, se foi por sermos como somos que sobrevivemos como nação indivisa ao longo de tantos séculos. Neste «nem escapamos nem sucumbimos» a certo mau viver, talvez nos aguentemos «eternamente», mas (suponho que) com prejuízo de (quase) todos, incluindo os que não suspeitam disso.
José Batista d’Ascenção
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