O minúsculo e frágil exemplar da imagem foi fotografado no dia 22 de Fevereiro de 2020 na zona do pinhal, no interior da Beira Baixa (concelho de Oleiros). Planta selvagem, singela e delicada, crescendo sob os pinheiros, à sombra, em solo argiloso (de substrato não granítico), pobre, com esparsa e pouco abundante manta morta (caruma), exibindo o amarelo vivo característico da flor no cimo da haste. Ali chamavam-lhe «campainhas». Há outros nomes vulgares, consoante as regiões do país: «copinhos» é um deles.
Há cinco décadas, estas plantas eram referidas mais comummente por aquelas terras. Agora são menos vistas: porque são menos abundantes e porque as pessoas residentes, poucas e (muito) envelhecidas, já não vão os locais onde (ainda) se podem encontrar. E os visitantes daquela zona, poucos também, terão outros objectivos, que não procurá-las e observá-las nos sítios onde (ainda) crescem.
Em meados do último quarto do século passado, para satisfazer a procura de floricultores estrangeiros (holandeses, britânicos e outros), procedeu-se à recolha de milhões de bolbos em lugares diversos do país, o que contribuiu para a raridade ou mesmo a extinção de algumas espécies. O objectivo era a multiplicação e a obtenção de híbridos (plantas resultantes do cruzamento de variedades da mesma espécie ou mesmo de cruzamentos entre plantas de espécies diferentes, mas geneticamente próximas) e poliplóides (seres vivos em que o chamado número base de cromossomas – os suportes físicos da informação genética – foi multiplicado por inteiro três, quatro, cinco… vezes), para fins comerciais. A hibridação e a poliploidia também ocorrem na natureza. São muitas as variedades cultivares, de formas variadas e tamanho tendencialmente maior, destinadas à ornamentação e à jardinagem.
Mais recentemente, a desertificação (humana), o abandono das terras de cultivo, a extinção dos rebanhos e a devastação cíclica por incêndios florestais dantescos, podem ter tido alguma influência na variação quantitativa das populações naquela zona. Desconheço se a situação tem sido estudada.
Os narcisos silvestres, como quaisquer outros seres vivos selvagens, merecem que se cuide da sua conservação, pois que algumas das suas espécies já se extinguiram e várias outras encontram-se ameaçadas, sabendo nós que é fundamental inverter o empobrecimento crescente da diversidade biológica nos ecossistemas (nome dos espaços e do conjunto de seres vivos que neles habitam, nas condições físicas, químicas e biológicas que aí se fazem sentir).
Dar a conhecer as espécies selvagens de seres vivos como os narcisos, alguns endémicos, é tornar as pessoas, especialmente as mais jovens, mais próximas do ambiente natural, assim promovendo a defesa da biodiversidade, de que, em absoluto, dependemos. E não basta a letra da lei proteger as espécies sensíveis. É preciso efectivar e acautelar o seu cumprimento, especialmente pela adesão dos cidadãos.
Motivo acrescido é a beleza com que podemos deleitar-nos.
José Batista d’Ascenção
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