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A palavra “biologia” significa estudo, conhecimento, da vida. A mais pequena unidade da vida é, segundo define a «teoria celular», a célula. A actividade biológica refere-se ao conjunto de reacções químicas que ocorre nas células, a que chamamos metabolismo, e à acção dos seres vivos uns sobre os outros e sobre o ambiente que os rodeia.
O metabolismo celular requer a matéria-prima alimentar, como os nutrientes e a água, ou o oxigénio nos seres aeróbios, envolve todo o tipo de reacções bioquímicas e obriga à remoção dos resíduos produzidos para o exterior das células e dos organismos, quando estes são pluricelulares.
Professor Miguel Mota (1922-2016). Agrónomo e cientista notável questionou o uso da designação "agricultura biológica". Ver nota. Imagem obtida aqui. |
Todo o “edifício” da vida e o seu funcionamento se “constroem” com os mesmos elementos químicos - os átomos - ou as suas combinações características - as moléculas - de quaisquer outros materiais, quer sejam naturais ou artificiais. Esses átomos são os de carbono, de oxigénio, de hidrogénio, de nitrogénio (azoto), de fósforo, de cálcio, de cloro, de sódio, de potássio, de ferro e de todos os demais, simples ou combinados segundo as suas afinidades para formarem as moléculas, de que são exemplo as dos compostos orgânicos característicos da vida: hidratos de carbono (ou glúcidos), lípidos (ou gorduras), prótidos (aminoácidos e proteínas), ácidos nucleicos (ADN e ARN) e outros.
As preocupações com a saúde e a conservação do ambiente, face à produção em larga escala, permitida pela industrialização crescente e pelo incremento dos transportes, o que exponenciou os fenómenos de poluição, despertaram a procura justificada de outros modos de produzir bens alimentares. Surgiu então a prática agrícola avessa aos fertilizantes industriais, a adubos químicos, herbicidas e pesticidas. Chamaram-lhe “agricultura biológica”. Obter-se-iam, assim, produtos «biológicos», ou, abreviadamente, “bio”. E criou-se uma marca, que se procura vender com sucesso, o qual só não é maior porque os seus artigos surgem nos mercados com preços tendencialmente elevados.
Preservar os alimentos de químicos nocivos à saúde tornou-se um objectivo necessário, que exige uma prática regulada e inspecionada. Mas convém não incorrer em equívocos prejudiciais. O nitrogénio, o fósforo ou o potássio dos adubos químicos não são diferentes dos mesmos elementos químicos presentes no estrume animal natural (são a mesma coisa…). Claro que esta realidade não legitima a “inundação” das culturas com agroquímicos (de que todo o excesso é poluente), os quais vão ser drenados para os aquíferos e para as vias fluviais, contaminando-os e provocando crescimentos anormais de algas e de certas plantas nos rios (fenómenos de eutrofização), por exemplo. Deve salientar-se também que o envenenamento de solos e águas com pesticidas, que eliminam plantas daninhas e animais, causa graves desequilíbrios nos ecossistemas.
Voltando ao conceito “biológico”. É absurdo considerar que um produto agrícola ou da pecuária deixa de ser biológico porque se recorreu a químicos artificiais. Tão absurdo como considerar que os seres humanos deixaram de ser biológicos porque toma(ra)m medicamentos. De resto, como não deve haver na Terra ser vivo algum que não tenha sido afectado pelos diferentes químicos produzidos por acção humana, por esta altura já não havia seres “biológicos”. Nem produtos “bio”.
Porque pensamos com as palavras, uma expressão apropriada para designar a prática agrícola com preocupações saudáveis seria chamar-lhe isso mesmo: “Agricultura Saudável”. “Agricultura Ecológica” (expressão usada em Espanha e na Dinamarca) é outra designação adequada.
“Biológica” é que não, porque não há agricultura nenhuma, boa ou péssima, que possa ser «não biológica».
José Batista d’Ascenção
Nota: Este texto humilde pretende ser uma homenagem simples ao Professor Miguel Mota (Lisboa, 15 de Outubro de 1922 - 24 de Março de 2016), agrónomo e cientista notável, que várias vezes se pronunciou sobre o absurdo da designação “agricultura biológica”. Especialista de genética e de biologia celular em plantas, de que foi pioneiro em Portugal, deixou obra na produção de cereais melhorados, ele que, em 1948 assumiu a direcção do Laboratório de Citogenética da Estação de Melhoramento de Plantas, em Elvas. Em 1957 escreveu um artigo visionário, esclarecendo alguns aspectos de uma dada fase da divisão das células por mitose (o papel dos cinetocoros na anafase), que a comunidade científica viria a reconhecer trinta anos depois.
Infelizmente, os programas de biologia do ensino secundário não lhe fazem qualquer referência
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