Sem dono, ao que suponho. Pelagem branca, sujinha, cauda parda, de comum prolongando a horizontalidade do dorso. Elegante e bem constituído. Observo-o amiúde, nas suas deambulações repetidas, aspergindo com urina, à retaguarda, e sob pressão, pontos diversos dos percursos: muros, esquinas e mesmo os pneus dos carros estacionados. Tão numerosas são as pulverizações que remetem para a eficácia da distribuição do volume de líquido, tendo em conta que não se lhe nota qualquer volume avantajado do ventre, até por comparação com outros exemplares que, de quando em quando, se aventuram nos espaços que são o seu domínio.
Estes machos, que uma ou outra vez se aproximam, põem-no imediatamente em guarda. Marca-os de perto, de olhar fixo, o tempo necessário, por vezes longo. Normalmente, os intrusos acabam por afastar-se, sempre com ele, persistente, a forçar-lhes a retirada. Poucos são os que lhe fazem frente, em diálogos miados de arrepiar e irritar. Já têm chegado a vias de facto e então a ferocidade é impressionante e impiedosa. Nesses casos, de que tem saído vencedor, segue-se um tempo de descanso e de relaxe flácido e pouco aprumado, em que recupera da exaustão.
Às fêmeas, de comum, cumprimenta-as "nariz-nariz" e segue adiante. A altura dos amores inicia-se de forma sonora, tensa e agressiva. Vence o mais forte, cumpre-se a fisiologia e regressam os tempos mais calmos.
Não deve ser fácil a vida de gato macho dominante. Vá lá que os eventuais pretendentes à posição costumam aparecer (e ser escorraçados) à vez. Imagine-se que se aproximavam dois ao mesmo tempo, um de cada extremo da rua!
Nunca falei para este gato. Nem ele nunca se preocupou com a minha presença, excepto, talvez, quando o fotografei. Nem sei por quanto tempo continuará a habitar na minha rua, em que se tornou presença característica. Ele que há já uns anos substituiu outro, de pelagem parda, quem sabe se pai dele.
Longa vida, gato.
José Batista d’Ascenção
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