segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Adictos dos telemóveis

Hoje e há quarenta anos diferem radicalmente no dia-a-dia comunicacional de cada um de nós. Tirando o tempo de sono, quantos de nós passam(os) sem ter por perto um telemóvel ou de o manter entre os dedos por longos períodos ou com elevada frequência? Precisamos disso? – Passámos a precisar, deixámos criar em nós essa necessidade. Isso é bom? – Talvez a resposta seja: - bom ou menos bom, é a realidade.

E se os mais idosos são, em geral, menos dependentes, entre jovens (e crianças…) viver sem o apêndice em que o telemóvel se tornou (em boa verdade, talvez cada indivíduo se tenha tornado o anexo maior do aparelho…) é inimaginável, particularmente para os próprios.

A comunicação múltipla permanente ou o vício do jogo e o arquivo da intimidade fazem do dispositivo algo indispensável ou quase intrínseco e precioso para os mais novos. Nas escolas, e não apenas, a situação tornou-se um problema, por vários motivos. Pela minha parte, nunca, em altura alguma, me ocorreu tocar no telemóvel de qualquer aluno ou de o guardar e fazer a sua entrega na direcção, como vi alguns colegas fazer. Por um lado, sentia incómodo pessoal em ter na minha posse, ainda que transitoriamente, o repositório da vida íntima de alguém e, por outro, parecia-me uma atitude demasiado arriscada perante a fúria que poderia desencadear nos meninos e nos seus encarregados de educação.

O problema cresce e já há quem sugira terapêuticas para a enfermidade. Não sei se a dita acentua a solidão, mas é um facto que a solidão existe durante a dependência, mesmo que as vítimas se julguem acompanhadas, com mais ou menos ansiedade ou euforia desencadeadas pelo número de «likes» conseguido.

Faz tempo, pessoa amiga, que, a meus olhos, preza a fruição da vida com sabedoria, dizia, com graça, que as pessoas passaram a registar fotograficamente (e a publicar) tudo, a toda a hora, incluindo belíssimas paisagens e monumentos, só lamentando que, nestes casos, elas mesmas não prescindam de se colocar à frente, em grande plano, tapando quase tudo.

Já os direitos de terceiros à privacidade e ao anonimato parece terem deixado de existir, sem que as vítimas involuntárias se apercebam sequer da violação desses seus direitos.

José Batista d’Ascenção 

terça-feira, 10 de outubro de 2023

A guerra, sempre a guerra

Onde haja dois humanos não é improvável que surja revolta e se desencadeie uma guerra entre eles. Falta-me saber, e não pretendo tirá-lo a limpo, se a universalidade da hipótese também se estende a indivíduos solitários (em luta violenta contra si próprios).

O que haverá, na profundidade de nós, que nos empurra para a oposição encarniçada aos nossos semelhantes? E, qualquer que seja a resposta, será que radica nela alguma característica necessária à sobrevivência ecológica e evolução do género humano? Nova dúvida, irresolúvel.

A Natureza (também) é (intrinsecamente) violenta, como são violentas grande parte das relações entre o mundo vivo, seja entre espécies diferentes, seja dentro da mesma espécie.

Estas constatações desconfortam-me: nem as religiões, nem a política, nem a psicologia, nem a sociologia, nem o grau de «educação», nem as boas vontades e os exemplos coletivos e individuais, nem tudo somado, resolveu, em algum lugar, a eclosão de tumultos e de carnificinas entre seres humanos. Chacinas que nada legitima, diga-se com a ênfase possível. Porém…

Que marcha é a nossa?

O que valem os nossos (tão díspares) princípios?

Quem somos nós?

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Braga, ponto por ponto, de ponta a ponta

Pelo interesse e beleza do edificado granítico dos seus monumentos, e não apenas


Arte e sensibilidade do meu colega de profissão (docente do ensino secundário, já aposentado) e amigo, Domingos Araújo.

Tardei a visitar a exposição desde aquela segunda feira em que, distraidamente, fui ao museu Pio XII bater com o nariz na porta. Bem feito, disse a mim próprio na altura, para aliviar a frustração. Voltei, com calma, para ver e apreciar muitos trabalhos (alguns dos quais já conhecia) distribuídos pelos seis pisos da Torre de Santiago.

Do talento, labor e dedicação de Domingos Araújo resulta uma obra de numerosas e variadas peças, que dignificam e elevam o autor, beneficiam a cidade e enriquecem as pessoas.

A autarquia e as instituições bracarenses bem podem investir na edição e divulgação do espólio, por diversos meios e tecnologias, que só têm a ganhar com isso. Promovem a urbe, desde a «Bracara Augusta», fundada há cerca de 2000 anos, e antes disso, acrescentam o seu património documental e elevam a cultura dos bracarenses e de todos os que a visitam e têm alguma curiosidade sobre o seu edificado monumental histórico, arruamentos ou bairros, cruzeiros, fontenários ou outras peças escultóricas.

Muitos parabéns, ao Domingos Araújo, particularmente, e a todos os promotores desta rica e primorosa exposição.

E obrigado, também.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Reciclagem – fazêmo-la realmente? Nã...

Há dias cheguei a uma grande superfície (Modelo/Continente, Braga) e, à falta de contentor específico, que nunca vi em lado nenhum, dirigi-me, como de costume, ao balcão de atendimento para entregar duas lâmpadas fundidas. Diferentemente do habitual, a menina que estava ao serviço respondeu-me que não recebiam esse tipo de material. Perante a minha incredulidade, disse-me que iria saber (mais tarde…). Ao mesmo tempo um seu colega abeirava-se para acrescentar que, quando recebem lâmpadas usadas, as colocam no lixo comum, como sempre fizeram.

O meu espanto cresceu. Apenas respondi que também eu ia saber, porque supunha que a lei obriga os estabelecimentos comerciais que vendem equipamentos eléctricos a receber os que lhes levarem inutilizados [Dec. Lei nº 67/2014, alíneas a) e b) do ponto 2 do artigo 17], para reciclagem, e voltei para trás com as lâmpadas, que continuam no carro, tal como as deixei.

De caminho, lembrei-me que há alguns anos, no centro da cidade, onde fui adquirir umas armaduras fluorescentes novas, tendo levado para entrega as velhas e as respectivas lâmpadas inutilizadas, o senhor que me atendeu, já entradote, tinha dito o mesmo: que sim, que ficava com aquilo, mas que não tinha onde o meter, não lhe restando alternativa senão colocar tudo no lixo normal. Naquela altura contraditei-o, não acreditei que dissesse a verdade, que desconhecesse a sua obrigação, e que, depois do meu alerta, fosse despejar as lâmpadas velhas no lixo comum. Agora acredito nas três possibilidades, cumulativamente.

Não sem pesar. Somos predadores do ambiente, no que podemos e no que não podemos ou não sabemos ou não queremos evitar.

Que fazer?

Mal pelos meus filhos e netos e dos que são das suas gerações.

José Batista d’Ascenção